Dia do trabalhador do patrão.


A frase está certa, se tivéssemos outros empresários...

C aro patrão da hotelaria e da construção, este texto é para si. Você que se orgulha de “dar trabalho a muita gente”, como se isso fosse um ato de caridade, enquanto paga salários mínimos a quem levanta o país às cinco da manhã ou trabalha sob sol ou chuva, com meia hora para comer, sem sombra nem descanso. Você, que exige gratidão, mas nunca deu um aumento sem a pressão de um sindicato ou o medo de perder um funcionário que, afinal, até sabia o que fazia, entre tantos...

Na hotelaria, exige-se que a camareira sorria com 14 quartos por limpar e um rombo nas costas que grita há anos. O cozinheiro trabalha sem folgas na época alta, o rececionista aguenta hóspedes malcriados com um “bom dia” enlatado, e você passeia pela receção de peito inchado, dizendo “isto aqui é uma família”. Claro que é, pena que só um come à mesa dos crescidos.

Na construção, o operário está no andaime às 7:30 da manhã, sem contrato decente, com segurança “à confiança”, e você a ver o lucro crescer na sombra de um carro alemão, comprado com IVA de materiais “em nome da empresa”. “Obra é obra”, dizem. Sim, e o corpo dos homens que a ergueram é entulho quando deixa de servir.

Alguém se lembra daqueles que o dinheiro não chega para o mês por muito que trabalhe? Todos vendem sucesso, para pagar mais um pouco dizem que não se pode ter custos fixos para sempre, porque de repente a "sorte" muda. Não me digam que estão a ganhar tudo o que podem agora, porque sabem que vai haver vacas magras. 

Por isso, neste Dia do Trabalhador do Patrão, aceite esta singela homenagem: um aperto de mão calejada, um olhar exausto e um pensamento sincero, o país anda porque há quem trabalhe, não porque há quem mande. E lembre-se: quando diz que ninguém quer trabalhar, talvez o problema não seja a falta de vontade... mas o excesso da sua memória curta.

O modelo económico que nos empobrece é este, com estas duas áreas. Também são estas duas áreas que estão a mudar a estrutura da nossa sociedade. Insiste-se cada vez mais porque não há ideias. Todos já perceberam que a única riqueza que se redistribuí é nas estatísticas, onde uns ganham efetivamente tudo mas derramam por "todos, todos, todos", mas ninguém cheira. É o governo que tenta compensar pelos impostos, uma ninharia.

P.S.: perdoem-me os poucos bons patrões desta terra, mas cansei de sucesso.

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