Miradouros de verniz e governos de papelão, Pico da Boneca.


O presidente Albuquerque, fiel à sua política de verniz e show-off, resolveu mais uma vez fazer figura nas redes sociais, desta vez no Pico da Boneca, em Santana, local onde existe um marco geodésico agora convenientemente "descoberto" pelo seu mais novo parceiro de vídeos: o ex-regente agrícola, agora rebatizado como explorador de miradouros.

O plano é velho: vender mais um pedaço da ilha ao turismo de massas com um "sky walk" pago, porque, claro, em bom vernáculo inglês, parece sempre mais moderno. A ambição? Fazer ali uma cópia do miradouro do Cabo Girão, porque copiar sempre foi mais fácil do que preservar.

O que não dizem é que, para cada selfie sorridente que publicam, há um pedaço da alma da Madeira que se esfarela debaixo dos seus pés.

E para dar mais sabor ao espetáculo, Albuquerque faz-se acompanhar de uma figura bem conhecida dos madeirenses: o ex-diretor de florestas, mestre de artes marciais e cozinheiro "Rochedo da Selva" que, no seu tempo, foi sinónimo de tudo o que havia de errado na gestão ambiental da Madeira.

Sim, esse mesmo.

O homem que assistiu (e ajudou) atentados ambientais em zonas protegidas, que facilitou usucapiões em terrenos públicos, para depois erguer a sua própria mansão no Chão dos Louros.

O mesmo que carrega nas costas a responsabilidade moral pela tragédia de 1996, quando guardas florestais perderam a vida numa operação marcada pela irresponsabilidade e negligência.

O mesmo que, tal como Albuquerque, demonstrava tiques de pequeno tirano — agarrado ao cargo com unhas, dentes e orgulho cego, recusando-se a sair mesmo quando já não havia chão moral onde pisar.

Agora, lado a lado, dois sobreviventes do velho regime fingem renovação, embrulhando projetos vazios em sorrisos, drones e vernáculos estrangeirados.

Mas por mais sky walks que inventem, não há passadiço que esconda a verdade: a gestão da nossa terra continua a ser feita em benefício de meia dúzia, e à custa de quem ainda se lembra do que realmente importa.

São variados os atentados ambientais que decorrem deste negócio de destruição disfarçada de progresso: o concurso do Teleférico do Curral das Freiras, a Estrada das Ginjas, o Campo de Golfe da Ponta do Pargo com a sua área residencial de luxo (não acessível ao madeirense ou porto-santense), a monstruosa ponte aérea prevista e a devastação da Frente Mar de São Vicente.

Sempre com a mesma lógica: destruir o que é nosso, transformar em moeda de troca eleitoral e vender como grande modernização, enquanto o povo assiste, de longe, ao funeral da Madeira que conhecia.

Enquanto eles planejam bilheteiras para ver o horizonte, esquecem-se que há uma geração inteira a pagar bilhete para assistir, impotente, à erosão da Madeira, não apenas do seu solo, mas da sua dignidade.

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