Há muito mérito natural bloqueado pela "cunha" dos predestinados.
Perdem-se. O esforço desmoraliza. Pessoas perdem-se.
V ivemos uma era de milhares de milhões, triliões de likes estúpidos, forjados pelas agências de comunicação, para quem paga, como que outra Justiça dos ricos existisse. Uma era onde o mérito é, muitas vezes, um adereço decorativo em vez de um critério decisivo. Há uma casta silenciosa, mas visivelmente presente, de indivíduos que parecem nascer com o caminho já traçado. São os predestinados. Não por virtude própria, mas por herança de nome, de contactos, de presença em certos jantares ou simplesmente por carregarem um apelido que ecoa nas salas do poder.
Esses predestinados encontram o tapete vermelho já estendido na função pública, no desporto, nos media, nas grandes empresas. Não precisam provar muito, às vezes, nada. Como que o ídolo fosse compensação de divulgação, mesmo que não valha nada, ou para estar em graça com o sistema. O simples facto de serem "filhos de" ou "amigos de" parece conferir-lhes um passe vitalício para oportunidades que outros, por mais esforço e talento que tenham, jamais alcançarão. Vivem num sistema que funciona como um espelho opaco: quem está de fora vê pouco, quem está dentro nem se questiona.
A comunicação social, cúmplice ou refém, quase sempre abraça-os. São promovidos como exemplos, como figuras de destaque, como inevitáveis. Recebem capas, entrevistas, tempo de antena, microfones apontados mesmo quando pouco ou nada têm a dizer. A imprensa não os examina, exalta-os. Como se precisasse constantemente de fabricar ídolos para alimentar um público cansado de pensar criticamente, distraindo-os da desigualdade, da estagnação, da falta de mobilidade real, de amor e respeito próprio, de mais ambição, legítima. A oportunidade que todos merecem.
E assim se constrói o mito do sucesso inevitável. Não o sucesso conquistado, mas o herdado, institucionalizado, blindado contra o fracasso. Enquanto isso, os que lutam diariamente para sobreviver e se destacar no mérito real assistem a esta farsa com uma mistura de frustração e resignação. Porque sabem que o jogo, muitas vezes, está viciado antes mesmo de começar.
A sociedade que idolatra predestinados corre o risco de amputar o seu futuro. E, talvez esse futuro já tenha chegado, na era da informação, a desinformação é rainha e o predestinado rei. Porque onde há privilégio cego, há talento desperdiçado. Onde há idolatria automática, há espírito crítico anestesiado. E onde o mérito é secundário, a mediocridade torna-se regra.
Acordar dessa hipnose coletiva é urgente. Não para destruir pessoas, mas para reequilibrar o jogo. Para que o nome que se carrega pese menos do que o que se faz. Para que o espaço de destaque seja conquistado, e não simplesmente herdado. Porque uma sociedade justa não é a que premia os escolhidos, é a que reconhece os merecedores.
Admito, que o lado negro esteja a crescer com o mérito desaproveitado. Cuidado com a inteligência desaproveitada e insultada, ela não se resigna. As eleições por exemplo, começam a ser um açambarcamento de oportunidade, basta ver o que vem a seguir, os tempos que estamos a viver...