Recrutamento Especial para a “Cunhada” da Segurança Social


H á muito tempo que observo, com preocupação crescente, a forma como certas figuras conseguem ascender e perpetuar-se em cargos de responsabilidade na administração pública, não pela sua competência ou mérito, mas por ligações de proximidade, familiar ou política, a quem decide. É o caso emblemático da agora célebre “cunhada” da Segurança Social, que parece ter garantido para si um cargo vitalício, imune a críticas, inquéritos, ou mesmo ao mais elementar bom senso.

Tenho muitos amigos empresários que, direta ou indiretamente, dependem da atuação da Segurança Social. Uns através de protocolos, outros por via de auditorias, prestações ou programas de incentivo. Quando a gestão de uma entidade com este nível de poder se torna refém de interesses pessoais, é toda a economia real que paga o preço. É confusão a mais, instabilidade a mais, e risco a mais quando estão em jogo milhões de euros e a sobrevivência de muitas empresas.

Chegou o momento de agir. É por isso que decidi fazer uma proposta formal de emprego à ilustre cunhada. Quero contratá-la para diretora de recursos humanos da minha empresa. Não é um cargo qualquer. É, de facto, uma oferta que resolve dois problemas de uma só vez: a minha empresa ganha uma figura com uma comprovada capacidade de sobrevivência política e institucional, e a Segurança Social livra-se, finalmente, de um elemento que se tornou tóxico para a sua credibilidade.

O pacote salarial é generoso: oito mil euros por mês, com todos os benefícios associados. Em troca, ofereço-lhe liberdade total. Pode iniciar processos disciplinares a quem quiser, sem necessidade de fundamento. Pode organizar campanhas difamatórias internas, promover guerrilhas de bastidores, e fomentar o caos organizacional, tudo dentro da mais absoluta legalidade, claro está. Ofereço-lhe proteção institucional equivalente à que já parece gozar: mais sólida que a de qualquer sindicato ou norma laboral.

Mas não me fico por aqui. Há vagas também para o irmão, para a irmã, e para quem mais ela desejar nomear. Pode preencher os quadros da empresa com um exército pessoal de lealdade cega. Terá carta branca para fazer recrutamentos sem concursos, para distribuir cargos à medida dos seus interesses, e até para criar funções que não servem para nada, desde que o façam com a convicção de que são indispensáveis.

Como gesto de inclusão e diversidade, estou disposto até a recrutar uma macaca da selva, para que a senhora cunhada se sinta acompanhada por seres do mesmo nível de consciência ética e institucional. Esta companheira pode até receber o título simbólico de "segunda cunhada", se isso ajudar à estabilidade emocional do grupo.

Parece absurdo? É. Mas não mais absurdo do que manter este estado de coisas sem consequências. Toda a gente sabe que estes assuntos exigem competência, transparência e seriedade, tudo o que tem faltado. E enquanto o país assiste impotente ao espetáculo da impunidade, eu avanço com soluções criativas. É ou não é assim que se resolvem os problemas?

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