É, no mínimo, curioso. Estamos já no segundo dia da tão anunciada deslocação à Venezuela do atual diretor regional das Comunidades, Sancho Gomes, e do seu anterior chefe — agora chefe de gabinete do Presidente do Governo Regional — Rui Abreu, e... nada. Nem uma linha, nem uma fotografia, nem uma selfie de aeroporto ou uma palmadinha nas costas de algum emigrante emocionado. Silêncio total. Estranho? Não para quem conhece a máquina.
É que falamos da direção regional mais prolífica em produção noticiosa da história da autonomia. Uma verdadeira central de comunicação em modo cruzeiro, que bate qualquer secretaria, instituto ou delegação na arte de disparar comunicados, lançar notícias sobre coisa nenhuma, eventos com três bandeiras e um cartaz, ou anunciar encontros e reencontros como se fossem tratados diplomáticos. Ao ponto de, em várias ocasiões, os próprios secretários regionais darem por si a anunciar... aquilo que já tinha sido anunciado pela direção das comunidades horas antes. Usurpação institucional, mas com foto de grupo.
Lembre-se o episódio recente na Calheta, na festa luso-sul-africana. O secretário da Agricultura e Pescas, Nuno Maciel, preparava-se para ser a figura governamental no evento — como, aliás, mandaria a lógica e a hierarquia. Mas eis que surge Sancho Gomes, de microfone na mão e discurso pronto, como se de um vice-presidente se tratasse. Diz-se que Maciel não gostou. Diz-se que foi mais do que evidente. Diz-se que é habitual.
Ora, perante este histórico de hiperatividade comunicacional, é legítimo perguntar: "porque será que agora reina o silêncio?" Que estranha contenção é esta? Será que não há sinal de rede? Ou será que a rede é... outra?
Sabe-se, por fontes mais coloridas do que oficiais, que estas deslocações à Venezuela têm habitualmente "agendas paralelas", menos institucionais e mais recreativas. O folclore não é apenas luso-venezuelano. Fala-se em comités de boas-vindas, trajados de látex, com escalas prolongadas em Vénus antes de qualquer encontro na Terra. São dez dias. Há muito tempo para diplomacia... e para outros prazeres. Tudo, claro, com o calor humano das comunidades — e com o dinheiro frio do erário.
Enquanto isso, o povo cá continua à espera de notícias. Daquelas com carimbo oficial, brasão ao canto e o habitual parágrafo de autoelogio. Ou então, de um desmentido — embora, conhecendo o estilo, é mais fácil que venha primeiro um novo comunicado com fotos da partida, da chegada e da sobremesa. Em pose.
Até lá, resta-nos imaginar. Porque, por agora, “os senhores estão ausentes”, e a transparência também.
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