N um mundo ideal, as câmaras municipais estariam ocupadas com coisas mundanas como habitação, escolas, ou saneamento básico. Mas felizmente vivemos na Madeira, onde todos sabemos que a verdadeira missão divina de uma autarquia é subsidiar clubes de futebol que jogam ao domingo às 15h para meia dúzia de gatos pingados, três dos quais são dirigentes, dois são familiares dos jogadores e o sexto está ali só porque pensava que era um pavilhão com multibanco.
E é neste cenário de fé futebolística que surge a tragédia grega — ou melhor, madeirense: o Clube de Futebol da Camacha, esse bastião do desporto local, está a ver-se à rasca. A razão? A Câmara de Santa Cruz, essa entidade insensível, teve a ousadia — a heresia! — de não apoiar financeiramente o clube.
Ricardo Miranda, presidente do clube e vendedor de apartamentos pela Remax (porque nada diz “paixão pelo futebol” como uma boa comissão por T3 em banda larga), está desgostoso. Desabafa que, se esta falta de apoio continuar, não se recandidata. Um verdadeiro ultimato à democracia local, ou há subsídio, ou perdem um líder que sabe montar um meio-campo... e vender um open space com arrecadação.
É caso para perguntar, como é possível a câmara não apoiar um clube que contribui tanto para o concelho? Não falamos apenas de formação desportiva, mas de valências cruciais como:
- Organização de magustos com bifanas e Super Bock;
- Contratação de atletas que também fazem biscates como eletricistas;
- Promoção turística da freguesia quando jogam fora ("Camacha? Isso é onde?" — "Perto do miradouro da serra, tem ali um campo ao lado de umas vaquinhas").
Está visto que se a autarquia não muda de rumo, corremos o risco de perder um dirigente que podia muito bem estar a liderar a Liga dos Campeões, mas escolheu, por amor, gerir um balneário com esquentador a gás e ladrilhos dos anos 80.
A solução é óbvia: mais apoio, mais verbas e, quem sabe, um fundo comunitário para relvado novo e fardamento em microfibra. Porque o futebol é vida. E se vier com um duplex incluído, ainda melhor.
Há prioridades na vida. Algumas pessoas escolhem saúde, educação, ou, vá, estradas sem buracos. Outras, as realmente iluminadas, sabem que o verdadeiro alicerce de uma sociedade funcional é o futebol regional. E não qualquer futebol, o futebol apoiado pelas câmaras municipais, porque senão como é que se compram bolas, se pinta o balneário e se paga ao ponta-de-lança que também é canalizador?
A Câmara de Santa Cruz, no entanto, parece estar distraída. Talvez preocupada com coisas menores como orçamentos, ou a recolha do lixo. E quem sofre? O glorioso Clube de Futebol da Camacha.
Ricardo Miranda, diz que se esta política de “apoio zero” continuar, não se recandidata. Uma ameaça séria — perderíamos não só um líder desportivo, mas também alguém que percebe de zonas habitacionais e terrenos com potencial construtivo.
É triste ver que a autarquia não valoriza uma instituição que, forma talvez clientes. Afinal, entre um treino e outro, nunca se sabe quando se fecha a venda de um T2 com mezzanine.
Talvez a solução passe por fundir a equipa com a imobiliária: "Camacha & Remax Futebol Clube" — com patrocínio nas camisolas e visitas guiadas aos empreendimentos nos intervalos do jogo. Alguém que marque golos e feche escrituras? Isso sim seria apoio à economia local.
Portanto, fica o aviso, sem futebol, o concelho perde. Não só em desportivismo… mas também em arrendamento.
Mantenha-se a vender apartamentos sr. Ricardo Miranda…
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