E nquanto pessoa ligada à Cultura na Região Autónoma da Madeira, venho expressar publicamente a minha profunda indignação pela recente atribuição de 17 500€ em fundos públicos à Associação das Indústrias Criativas da Madeira para um evento de apenas um dia, cuja relevância cultural e impacto na comunidade artística são inexistentes. Este valor, que deveria estar ao serviço de projetos culturais com verdadeiro alcance social e artístico, foi canalizado para uma iniciativa restrita, elitista e sem envolvimento com os artistas ou o público da região.
É especialmente revoltante que esta associação, considerada por alguns representantes políticos como um exemplo de apoio aos artistas regionais, funcione na prática como uma estrutura fechada, opaca, com ligações privilegiadas ao atual secretário regional com a tutela da Cultura. Este financiamento levanta questões sérias sobre transparência: houve candidatura pública? Houve critérios objetivos? Houve sequer avaliação de mérito artístico ou social? Ou bastou um telefonema?
Enquanto isso, dezenas de associações culturais com trabalho comprovado nas áreas da inclusão, da dinamização comunitária, do apoio à juventude e da valorização do património continuam à espera de apoios já prometidos, com projetos em marcha e datas já definidas, sem saber se terão condições para os concretizar.
A disparidade de tratamento entre projetos sustentáveis e este tipo de evento circunstancial revela um claro favorecimento político e uma profunda injustiça.
É importante salientar que a mesma associação já dispõe de um edifício exclusivo, num privilégio que não é concedido à esmagadora maioria das estruturas culturais da Madeira, que funcionam muitas vezes em caves, garagens ou espaços emprestados. Mais alarmante ainda foi a presença no evento em questão de funcionários públicos, nomeadamente um arqueólogo da Direção Regional da Cultura e uma técnica ligada ao Museu Viventes, que participaram ativamente na organização sem que se perceba em que condições — levantando suspeitas de promiscuidade entre funções públicas e interesses privados.
Importa também recordar que o presidente da referida associação está alegadamente referenciado em investigações judiciais em Lisboa, nomeadamente no caso do Ateneu Comercial, relacionado com suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais.
Como é possível que alguém com este tipo de histórico receba apoio direto do Governo Regional da Madeira para eventos sem impacto comprovado?
A Cultura madeirense não pode continuar a ser gerida como um palco para vaidades pessoais, favorecimentos políticos ou jogos de bastidores. A quem presta contas esta associação? Como será feito o relatório financeiro do evento? Quantos artistas foram efetivamente envolvidos? Que retorno foi dado à comunidade e financeiramente aos artistas ? E que outros apoios recebeu, nomeadamente através de protocolos com a Assembleia Legislativa da Madeira.
Num momento em que se exige maior ética, equidade e responsabilidade no uso dos recursos públicos, este tipo de decisões são um insulto a todos os que trabalham com seriedade e paixão pela Cultura e ainda esperam pelo financiamento da SRACT. Projetos sérios , importantes, com impacto direto nas comunidades, que promovem inclusão, diversidade, inovação e formação, continuam a ser ignorados ou subfinanciados, e este evento que já no ano passado anunciava a data deste ano, devia ter acesso a algum oráculo que muitos de nós não temos, e que pelos vistos o visado tem, e anda bem a acompanhado pela sua colega da Siram, que também não se percebe como estouram dinheiro público da região, e da DGartes em quadrados de lixo, com exploração de artistas, e quase 30 mil euros para justificar.
O saco azul na Cultura tem sobrevivido com favores de amigos que vão passando recibos uns aos outros para justificar a saída do dinheiro. Era bom haver uma inspeção, começando pela Associação de Bandolins da Madeira.
Estamos fartos desta promiscuidade, de favores, de ligações pessoais, e quem realmente está a tentar fazer alguma coisa pela Cultura, pela Arte, pela valorização dos profissionais da Cultura, e pela democratização e democracia cultural, é ignorado.
A Cultura é um bem comum, deve ser tratada com rigor e servir a todos. O que se passou neste caso é inaceitável. E exige respostas.
Vejam as fotos, façam contas de sumir, e alguém que me explique com tanto apoio em quê que foram gastos 17 500€?
Andamos nós com migalhas e esta gente sem o mínimo de esforço, com um evento opaco e vazio de conteúdo, sem impacto direto na vida dos artistas e sem qualquer tipo de trabalho nas indústrias criativas, tem a bênção de tanta gente do Governo , e ainda nos presenteia com a pirosidade de entregarem um “objeto fálico” em laranja a imitar o "mexilote" da poncha.
Fechados dentro da Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, a andropausa da Cooltura no seu melhor.
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