A Madeira pode continuar a receber tantos carros?


Desmesuramos, tornamos insustentável, queremos mais com a ganância, vivemos o amanhã hoje, não damos tempo a que nada se adapte ou se amadureça ideias.

A s justificações que nos arranjam, sobre a concentração de pessoas nos mesmos lugares, para justificar a afluência em quantidade e desregrada, têm pés de barro. Porquê, porque todos os lugares estão por igual e isso nota-se ainda mais quando a par do turismo/rent-a-cars arrancam a catadupa de festas que concorrem com lugares turísticos. Então tantas solicitações não diluíam a quantidade criando uma capilaridade de frequência na existência de automóveis?

Calcular o número exato de carros que a Madeira pode comportar de forma sustentável na sua rede viária é uma questão complexa e não existe um número fixo e universalmente aceite. Porque a sustentabilidade não se mede apenas pela capacidade física das estradas, mas também pelo impacto ambiental, social e económico do tráfego.

Dois elementos:

  • A APRAM ainda dá conta do número de viaturas que deram entrada na Região, através dos portos do Caniçal e do Porto Santo, que "movimentaram 14.269 autos, (-1.401 viaturas que em 2023 ), o que correspondeu a 14.159 no Caniçal e 110 no Porto Santo". (link)
  • Os dados não são certos, nem actuais, mas tendo em conta que em 2021 o parque automóvel seguro na Madeira ascendia a quase 173 mil, no ano seguinte foram vendidos cerca de 5.300 veículos novos e este ano, até Junho tinham sido vendidos quase 3.300 veículos novos. Juntando ao facto de em média, anualmente, serem canceladas mais de 2.100 matrículas na Região Autónoma, o número de veículos que podem circular nas estradas poderá estar nos 180 mil. Seguramente, mesmo que sejam menos, será o mais alto desde que há dados. (link)

A grosso modo estamos a aumentar de ano para ano uma média de 12.000 carros (entre entradas e abates) à rede viária da Madeira? A Madeira é uma ilha com uma geografia montanhosa e uma rede viária que, embora tenha túneis e vias rápidas, apresenta muitas estradas sinuosas e íngremes. Essa característica, por si só, limita a capacidade de fluxo de tráfego, mesmo em condições ideais. Mesmo o turismo, em busca do turístico acaba por usar o que o GPS aconselha

Factos! O congestionamento que se sente em certas áreas, especialmente no Funchal e nas vias de acesso a pontos turísticos, é um forte indicador de que a rede viária está a operar acima da sua capacidade ideal de forma sustentável. O tempo de viagem aumenta, o stress dos condutores também e há um maior consumo de combustível e emissões. Quem mede consumo de combustíveis, eletricidade e emissão de gases? Ahh os resultados são maravilhosos. Aposta-se como a pegada do carbono na Madeira aumentou a olhos vistos?

O aumento significativo de carros de aluguer, impulsionado pelo turismo, contribui enormemente para o volume de tráfego. Muitos turistas optam por alugar carros para explorar a ilha, o que é compreensível dada a liberdade que proporciona, mas adiciona uma pressão considerável à infraestrutura existente, especialmente durante as épocas altas. Mudou-se o turismo que privilegiava os autocarros para o que se aventura em rent-a-car. Asneira!

A presença de carros particulares, rent-a-cars, táxis, autocarros e camiões na mesma rede viária também afeta o fluxo. Veículos maiores e mais lentos podem criar gargalos e dificultar a fluidez do tráfego. É uma perceção.

O problema não é só a capacidade das estradas, mas também a falta de estacionamento adequado em muitos locais, o que leva à procura de lugares e, consequentemente, a mais tráfego a circular. Eu ficou possuído com rent-a-cars a ocupar estacionamentos, lugares cativos e ainda a CMF para seu uso. Não facilita a vivência dos locais, é um abuso de poder e de quantidade.

O que seria sustentável para a Rede Viária? A "sustentabilidade" neste contexto vai além da simples capacidade do asfalto para comportar carros. Significa que o sistema de transporte deve minimizar o impacto ambiental, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a poluição sonora. Um grande volume de veículos, especialmente com motores de combustão interna, vai contra este princípio. E lembrem-se, as rent-a-car preferem a autonomia dos fósseis, é melhor de gerir.

Há mais uma, qual o ponto de equilíbrio que gera lucro de facto? O excesso de carros sobrecarrega os recursos da ilha com manutenção excessiva de estradas devido ao desgaste ou à necessidade constante de expansão. Como não convidamos grande qualidade no turismo... Fora o asfalto e os caminhos alternativos pedestres na Ponta de São Lourenço?

Já vai longo, finalizo, proporcionar mobilidade eficiente para residentes e turistas, sem que um grupo penalize o outro. O congestionamento excessivo reduz a qualidade de vida dos residentes e isso cria uma população maioritariamente intolerante ao turismo que vamos tendo. Tem piada a promoção de Transportes Públicos para os madeirenses e descompensar largamente com rent-a-cars. Continuamos na nostalgia do turismo que tínhamos em autocarros eficientes, frequentes e confortáveis, incentivando tanto residentes quanto turistas a utilizá-los.

Para quando a regulação de Rent-a-Cars? Ninguém abre o "bico"! Medidas para gerir o volume de carros de aluguer, talvez com quotas ou incentivos para veículos mais sustentáveis (elétricos/híbridos).

Vocês querem ver que a solução vai ser abrir mais estradas? É o betão que resolve sempre as intempéries e não o coberto vegetal. Que ilha de loucos. Insustentável.

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