Andebol em casa.


A nova jogadora do Madeira Andebol SAD é a Esposa do Administrador?

F oi recentemente anunciada a nomeação de V. R. como novo administrador da Madeira Andebol SAD, entidade que gere a equipa sénior feminina da região. Uma escolha que não surpreende todos, tendo em conta o seu envolvimento direto na época anterior como treinador adjunto da equipa sénior masculina do Académico da Madeira. Contudo, levanta agora sérias questões de natureza ética, de transparência e de gestão.

Apenas uma semana após a sua nomeação, surge nas redes sociais da própria Associação de Andebol da Madeira o anúncio de que a sua esposa integra agora a equipa sénior feminina da mesma estrutura. Sem qualquer comunicação oficial a esclarecer os critérios de contratação, os moldes do acordo ou o processo de seleção, este gesto foi imediatamente percebido por muitos como uma situação flagrante de nepotismo e conflito de interesses. Um pecado capital em qualquer administração desportiva minimamente responsável.

A pergunta impõe-se: qual será o ordenado auferido pela exímia atleta em questão? Um valor simbólico? Um gesto de boa vontade? Ou um contrato remunerado, aprovado por quem está, precisamente, casado com a beneficiária? Tentem dar um palpite.

Este episódio, no entanto, não é um caso isolado, nem se resume ao casal envolvido. Trata-se de mais um capítulo de um sistema fechado, há décadas rotativo, entre dirigentes e treinadores, onde clubes, projetos e organismos regionais partilham os mesmos protagonistas, os mesmos cargos e as mesmas decisões. Sem oxigenação, sem escrutínio, sem alternância real.

Um clube privado que se tornou, para muitos, um reduto de interesses familiares e rotatividade estratégica. Diversos treinadores e dirigentes, alguns ainda em funções, estiveram ou estão ligados à modalidade apenas até os seus filhos atingirem o patamar competitivo desejado, fossem eles ou não atletas com talento reconhecido. Saíram logo após, como quem utiliza a estrutura como trampolim pessoal, e não como motor de desenvolvimento desportivo coletivo.

Casos destes são exemplo dessa promiscuidade institucional, onde decisões importantes se tomam à margem dos regulamentos, à sombra de amizades convenientes ou laços familiares. Enquanto estas continuam a girar nesse carrossel de cargos e favores, mantendo uma rede fechada de influência e silenciamento, o andebol da Madeira perde atletas, clubes e credibilidade. A modalidade definha, não por falta de talento, mas porque o seu solo ético está minado.

O caso V. R. não é só sobre um treinador e a sua mulher. É sobre a banalização do favorecimento pessoal dentro de estruturas públicas. É sobre a falta de regras claras. É sobre uma cultura de permissividade e privilégio enraizada há demasiado tempo.

Enquanto isso, quem sonha com um andebol mais justo, aberto e profissionalizado continua a bater à porta certa. Mas ninguém atende.

Enviar um comentário

0 Comentários