O povo precisa de soluções, não de sessões fotográficas.
S enhora Secretária da Saúde, permite-me fazer-lhe uma sugestão: largue o telemóvel, encoste o bolo de aniversário e por favor, olhe à volta. Está num cargo de responsabilidade, não num concurso de popularidade no Instagram.
Enquanto os profissionais da saúde se desdobram em turnos exaustivos, enquanto as listas de espera para consultas e exames crescem como ervas daninhas, enquanto utentes desesperam por atendimento nos hospitais e centros de saúde da região, a senhora prefere o quê? Tirar fotografias com jovens com deficiência (os mais frágeis, claro, os mais fotogénicos para dar ares de empatia) e celebrar aniversários de instituições como se estivéssemos todos numa eterna festa infantil. É só balões, bolos, palmadinhas nas costas e posts com legendas ocas. Uma espécie de reality show institucional — só falta o confessionário.
E o essencial? O trabalho sério? A estratégia de fundo? Onde está?
As gerações mais jovens, altamente qualificadas, dedicadas e competentes, estão a dar tudo no terreno e esperavam de si liderança. Esperavam contratos de trabalho estáveis, dignidade profissional, investimento em recursos humanos reais. Mas em vez disso, o que recebem? Precariedade. Silêncio. E, claro, uma fotografia sorridente da senhora com o polegar no ar.
Faltam funcionários na receção do hospital. Nos centros de saúde. Falta quem atenda, quem informe, quem cuide. E, pasme-se, ainda estamos em 2025 com sistemas informáticos que mais parecem saídos de um episódio do MacGyver — com sorte, funcionam à terceira tentativa e só se não chover.
Quer mesmo ajudar? Ótimo. Comece por resolver problemas reais. Invista onde é preciso. Crie estruturas, crie condições, crie soluções. Não se esconda atrás de eventos simbólicos com os mais vulneráveis — isso não é empatia, é oportunismo. E pare de inventar datas e motivos para celebrar quando há tanta coisa a falhar. A saúde não é um palco de vaidades. É uma missão.
E já agora, uma última nota para a sua assessoria de imprensa: sejam mais inteligentes. Deixem de pensar em soundbites e likes e comecem a pensar em políticas públicas com impacto. A Madeira precisa de visão, não de teatrinhos mal encenados.
Senhora secretária: está na hora de descer do palco. E finalmente começar a trabalhar.
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