Porque é que o Madeira Opina faz falta (mesmo muita)


V amos ser honestos: viver numa ilha é ótimo. Sol, mar, poncha e espetada, tudo maravilhoso. O problema começa quando, ao dar uma opinião, corre-se mais risco do que ao nadar com tubarões. E não estamos a falar de tubarões do mar, mas daqueles de gravata, cartão partidário e nomeações em série.

Na Madeira, há uma regra não escrita (mas bem sentida): se trabalha para o Estado, não pense — e se pensar, guarde para si. Ter opinião própria é visto como desvio de conduta. Há quem diga que há mais liberdade numa aula de zumba da terceira idade do que num gabinete público da administração regional.

E é aqui que entra o Madeira Opina, um pequeno milagre digital, tipo santa padroeira da liberdade de expressão madeirense. Um sítio onde as pessoas podem finalmente dizer o que pensam… sem ter de passar depois pelo gabinete disciplinar, levar um “não apto” na avaliação, ou ver o contrato renovado apenas até terça-feira.

O anonimato, nesse contexto, não é cobardia. É autopreservação. É o colete salva-vidas de quem vive numa ilha onde discordar é quase um crime de lesa-majestade. “Ah, mas se tem razão, por que é que não dá a cara?” pergunta quem sabe muito bem o que acontece a quem dá a cara. Normalmente deixa de dar a cara porque desaparece da repartição.

E atenção: o Madeira Opina não é só um muro de lamentações anónimo. É um espaço onde se fala da realidade sem filtros, onde se expõem situações que muitos fingem não ver, e onde o cidadão comum pode finalmente dizer “isto está mal” sem ter de engolir o “mas cuidado com quem ouve”.

Por isso sim, o site faz falta. É incómodo para alguns? Claro que é. A verdade costuma ser. Mas enquanto houver medo de falar, vai ser preciso um sítio onde se possa falar sem medo.

No fundo, o Madeira Opina é como aquele tio que diz tudo o que pensa nos almoços de família, só que, em vez de falar de futebol e vizinhos, fala do estado das coisas. E ainda bem que existe. Porque nesta ilha, onde tudo se sabe mas pouco se diz, é bom haver um lugar onde finalmente se diz.

E se algum dia chegarmos ao ponto em que já não for preciso escrever às escondidas, então aí sim, celebramos. Até lá… opinamos. Mesmo que seja com pseudónimo.

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