João Rodrigues, a JPP e o jogo político em Santa Cruz


Alianças que merecem ser questionadas.

Corre pelo concelho de Santa Cruz uma nova informação que está a gerar inquietação entre cidadãos atentos à política local: João Rodrigues irá integrar a Câmara de Santa Cruz.

O que antes eram apenas rumores começa agora a ganhar corpo com novos dados. No dia de ontem, João Rodrigues foi visto em público, numa mesa em pleno Caniço, acompanhado de três figuras com peso político e histórico na região: a sua mãe, Élia Ascensão, e ainda Filipe Sousa, ex presidente da Câmara de Santa Cruz. O encontro, testemunhado por várias pessoas, foi tudo menos discreto — e parece marcar o início de uma aliança que já se desenhava nos bastidores.

Durante semanas, circularam rumores de uma proximidade entre João Rodrigues, Élia Ascensão e Filipe Sousa, apoiada em relações pessoais e de vizinhança. Agora, com esta exposição pública, muitos começam a ligar os pontos. Estará João Rodrigues a abandonar definitivamente o Funchal? A sua saída da Câmara Municipal do Funchal — onde deixou um rasto controverso — poderá afinal estar ligada a esta transferência estratégica para Santa Cruz?

Há também um dado relevante: a família Rodrigues possui património e terrenos no concelho de Santa Cruz, o que levanta questões legítimas sobre eventuais conflitos de interesse ou motivações pessoais na mudança de direção política.

Mas a questão mais grave talvez resida noutra frente: João Rodrigues terá sido durante anos uma figura próxima e alinhada com o PSD. Ora, a JPP construiu a sua imagem precisamente como força alternativa ao domínio tradicional dos partidos, nomeadamente o PSD. Como se justifica, então, a entrada de alguém tão identificado com o passado da política funchalense — e com um legado tão questionável?

João Rodrigues não é apenas um nome; é uma figura que protagonizou decisões urbanísticas polémicas, com impacto profundo na cidade do Funchal. Foi protagonista em processos de urbanismo altamente contestados, como o da Praia Formosa, e sempre com uma postura tecnocrática que, em muitos casos, ignorou os anseios da população e dos próprios funcionários da autarquia. Acresce que a sua formação académica não é em urbanismo, mas sim em áreas relacionadas com águas e esgotos, o que contrasta com a imagem de especialista que frequentemente tenta vender.

A JPP, que se pretendeu afirmativa, renovadora e diferente, arrisca-se agora a repetir os erros de que acusava os outros, acolhendo no seu seio figuras comprometidas com práticas e redes do passado. A deceção cresce entre os eleitores que viam na JPP uma esperança de mudança real. Afinal, poderemos estar apenas perante um sucedâneo barato do pior que o PSD produziu.

Resta ainda uma pergunta no ar, tão grave quanto legítima: estará João Rodrigues a entrar na JPP como peão político ao serviço do próprio PSD, ou de interesses económicos ligados a esse partido? Se assim for, estaríamos perante uma tentativa de coabitação silenciosa entre JPP e PSD, um entendimento não declarado que contraria tudo aquilo que os eleitores foram levados a acreditar.

O que é certo é que a presença pública de João Rodrigues, Élia Ascensão e Filipe Sousa numa mesma mesa, em plena via pública, não é um acaso. É um sinal. E os sinais, na política, nunca são neutros.

Cabe agora aos eleitores de Santa Cruz estarem atentos. O futuro da política local — e a sua integridade — depende de escolhas conscientes, mas também de memória e vigilância.

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