E m Santa Cruz, onde a política se decide tanto em comissões como em almoços bem regados, assistiu-se recentemente a um episódio exemplar daquilo que muitos chamariam de “jogo sujo”. Paulo Alves, deputado, professor e militante número 3 do Juntos Pelo Povo, era apontado por todos, dentro e fora do partido como o candidato natural à câmara. Carismático, próximo da população e com obra feita, parecia ter a vitória interna no bolso. Mas subestimou o apetite de certos protagonistas pelo controlo absoluto.
Num almoço no restaurante “Só Espeto”, Élvio Sousa, dono do JPP e líder da bancada parlamentar, assegurou que Paulo seria o escolhido. Garantiu que não havia margem para dúvidas nem manobras: era o nome mais forte, e ponto final. Mas Filipe Sousa, presidente da câmara e homem habituado a ter a última palavra, tinha outros planos. Queria ver Élia, uma figura da sua confiança política como cabeça de lista. E quando a vontade política se cruza com o ego, o guião raramente segue pela via democrática.
Rapidamente surgiram sondagens pouco claras, com resultados favoráveis a Élia, promovidas com a ajuda do omnipresente Milton, sempre pronto a alinhar nos bastidores. Paulo, fiel aos valores democráticos e confiante no apoio dos militantes, acreditava que a verdade prevaleceria. Com o apoio da presidente da comissão política Lina Pereira e o reconhecimento dos colegas, avançou tranquilo. E na reunião decisiva, os números falaram por si: Paulo foi o mais votado pela estrutura do partido, seguido de Élia e Milton.
Mas a história não terminou ali. Nos dias seguintes, Filipe pressionou Élvio com a ameaça de apoiar uma candidatura independente encabeçada por Élia, com apoio de Milton. Uma jogada arriscada, mas que causou o impacto pretendido. Élvio, talvez por medo de desagradar ao poder instalado, talvez por cálculo político, cedeu. E assim, traiu Paulo Alves — o mesmo colega a quem tinha dado garantias e em quem confiava há anos.
O que era uma vitória legítima foi sabotada nos bastidores. O candidato mais bem posicionado foi afastado por não alinhar com as vontades particulares de quem se julga dono do partido. E o povo viu. E o povo lembra-se.
Paulo não perdeu por falta de apoio popular, nem por falta de mérito. Perdeu porque, em certos círculos, ser competente e independente é considerado perigoso. Mas em Santa Cruz, a memória política é mais longa do que pensam.
Paulo, continua. Porque os eleitores reconhecem a diferença entre quem serve e quem se serve da política.
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