O pequeno grande ditador


E ra uma vez, numa terra chamada Gaula, dois irmãos com um sonho comum: subir ao poleiro da política. Um deles, Filipe Sousa, conseguiu infiltrar-se no Partido Socialista, fintando o incauto Victor Freitas. Já o outro irmão, Élvio, de estatura mais modesta, cheio de ressentimento e ego inflacionado achou por bem fundar um movimento próprio. Nasceu assim, entre latas de tinta e pneus carecas, o glorioso “Juntos Pelo Povo”, parido na garagem do Filipe.

Este Frankenstein político desceu de Gaula até Santa Cruz e metamorfoseou-se num partido. Com o empurrãozinho do PS (sim, o mesmo PS que achava que alimentava um cordeiro), conseguiram conquistar a Câmara. Mal sabiam os socialistas que estavam a criar um monstro político que, mais tarde, lhes trincaria os calcanhares. Hoje, o JPP é a segunda força política, e o PS deve andar à procura do recibo para devolver o apoio.

Elvio, o novo senhor feudal do JPP, não se fez rogado. Traiu o irmão, qual Brutus de calças curtas — atirando-o para o quinto lugar da lista nas regionais de 2023. Daí nasceram dramas familiares dignos de telenovela mexicana: quem não se lembra do famoso vídeo do sobrinho revoltado, ou da mulher do Filipe a ir votar de preto, como se fosse ao enterro do partido?

O pequeno grande ditador não reina sozinho. Tem os seus escudeiros. Lina Pereira, sempre pronta a aplaudir o “compadre” em troca de uma cadeira. Paulo Alves, afastado da corrida à Câmara, mas fiel como um cão de guarda. E claro, o sonolento Rafael Nunes, o homem da banana, que só fala de trilhos e caminhos agrícolas, e nem um voto acrescenta, mas continua ali, firme como uma estaca.

Na Assembleia, o Élvio nem deixa o Milton abrir a boca. Prefere dar a palavra ao Carlos Silva, o “cubano”, ignorando os deputados que mais votos têm no concelho onde governa o seu partido. Recentemente, Victor Freitas pai biológico do monstro, decidiu levantar a voz para por o pequeno ditador no seu sitio. Um acto de coragem ou remorso, talvez ambos.

Élvio agora decide quem é “de confiança”, como se tivesse um detetor de traições. Mas ele próprio foi quem rasgou os acordos com o PS. A verdade é que há cada vez mais eleitores a lamentar o voto no JPP, o discurso da garrafa de gás já não chega. A paciência está a esgotar-se.

Cuidado, ditadorzinho. A tua hora está a chegar. No próximo congresso, a Élia, o teu irmão (sim, aquele que empurraste) e o trio Milton, Luís Martins e Patrícia Spínola estão prontos para te fazer a folha. Abrir os olhos talvez já não chegue. O que perdeste mesmo foi a humildade, e vou acabar com uma passagem da bíblia de aquelas que tu gostas tanto: “Disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele respondeu: Não sei; sou eu o guardador do meu irmão?".