... e a memória curta de alguns notáveis
H á coisas que o futebol nunca muda: os golos, os penáltis falhados e os dirigentes que, depois de falharem, se tornam cronistas de bancada. Nos últimos tempos, tem sido recorrente ver nas redes sociais antigos membros da direção de Rui Fontes — que conduziram o clube à descida de divisão em 2023 — a vestir agora o manto da crítica implacável. Um deles, ex-dirigente e ainda candidato derrotado nas últimas eleições (pela lista de Carlos Batista), publicou recentemente um texto “espirituoso” sobre o pagamento de quotas, num tom de revolta fingida mas cuidadosamente ensaiada para o aplauso fácil.
A publicação, que mistura ironia com indignação, começa com a frase:
"Hoje fui tratar das quotas da bola, cheguei lá com espírito de missão (...)"
e culmina com:
"Ser sócio do Marítimo é isto, amor cego, dor crónica e um débito direto para o purgatório."
Sim, o texto é criativo. Tem graça. Mas não resiste à análise da realidade.
É que esta indignação parte de alguém que esteve no poder durante a mais negra travessia desportiva da história recente do clube — e que, por ação ou omissão, contribuiu para a descida à Segunda Liga.
Recordemos: em 2022/23, o Marítimo perdeu 27 jogos, sofreu 78 golos e foi condenado à descida de divisão com meses de agonia. E esta direção atual herdou esse destroço.
Dizer hoje, com ar moralista, que "não se deve pagar para ver este Marítimo" é esquecer, com conveniente amnésia, que este Marítimo está a tentar levantar-se dos escombros que aquele Marítimo deixou.
Aliás, os próprios números mostram que a atual direção de Carlos André Gomes, apesar de uma época de desilusão em 2024/25 (com 12.º lugar e quatro treinadores), reduziu drasticamente o número de derrotas, estabilizou a defesa e construiu uma equipa mais competitiva fora de portas. Falta ambição? Falta estabilidade? Sim. Mas há uma base. Há um rumo. E há um plano de profissionalização visível, da formação à estrutura da SAD, que agora passa pela entrada de um acionista de capital, com a esperança de dotar o clube de meios que já não tem.
Ao contrário do passado recente, não se vive hoje num vazio ou num ciclo de negação institucional. O atual presidente tem cometido erros — sim — mas fá-lo de cara exposta e com responsabilidade executiva, não a partir do teclado nem com sarcasmos poéticos.
A crítica, para ser legítima, tem de vir com memória e com verdade. E quem esteve no leme do naufrágio não pode agora armar-se em salva-vidas. É que, no fim, os sócios e adeptos do Marítimo merecem mais do que ex-dirigentes em modo stand-up. Merecem responsabilidade e, acima de tudo, respeito.
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