Os cogumelos


Q uem anda a pé pelo Funchal já deve ter reparado, de um momento para o outro, abriram várias lojas de massagens tailandesas. Estão espalhadas pela cidade, como cogumelos muitas delas quase lado a lado. Têm nomes parecidos, decoração semelhante, plantas artificiais, iluminação baixa, cheiro a óleo essencial. Mas o que chama mais a atenção nem é isso. É o vazio.

Passamos por elas a diferentes horas do dia. As funcionárias estão sempre lá dentro, sentadas nas próprias cadeiras onde, em princípio, prestariam os serviços. Quase sempre sozinhas, mergulhadas no ecrã do telemóvel, a fazer scroll, à espera que o tempo passe. Não há movimento, Não há clientes à entrada, Não se ouvem vozes, nem música. A única coisa que indica que o negócio está a funcionar são as portas abertas e as mulheres à espera dos clientes que não existem. Ainda assim, continuam a abrir. Uma atrás da outra, sempre com o mesmo silêncio.

Começa a ser impossível não estranhar. Numa cidade como o Funchal onde as rendas são altas e cada metro quadrado custa a justificar, estas lojas mantêm-se abertas sem sinal visível de atividade. E se é verdade que há formas discretas de trabalhar, também é verdade que o Funchal não é assim tão grande, quando algo se repete em tantos pontos, começamos naturalmente a perguntar porquê.

É sabido que há setores vulneráveis a serem usados como fachada para outras finalidades. As massagens, por serem um serviço imaterial permitem declarar receitas fictícias sem levantar muitas suspeitas.

E há também a parte humana. O que sabemos sobre as mulheres que ali estão? Estão ali por escolha? Têm salários justos? Estão protegidas pela lei? Ou apenas cumprem turnos longos, em silêncio, sem ninguém a quem tocar? São perguntas legítimas, porque do lado de fora tudo parece suspenso. O tempo passa, mas dentro das lojas nada muda.

Não se trata de acusar, nem de espalhar teorias. Trata-se de reparar. A cidade tem o direito, e o dever, de olhar para os seus espaços com atenção. Quando algo se instala com tanta força e tão pouco movimento, talvez mereça mais do que um olhar distraído.

O Funchal ainda é feito de vida na rua, de pessoas que se conhecem, de negócios que têm rosto. Estas lojas não têm isso. Têm portas abertas, mas não têm presença. Têm luzes acesas, mas não têm sinais de vida. E quando o silêncio se multiplica assim, há qualquer coisa que pede resposta.

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