H á quem diga que a política tem destas coisas: uns vão, outros voltam… e há os que regressam como se nada tivesse acontecido. João Cunha e Silva, vice-presidente de antanho, homem de visão — ou, como alguns preferem dizer, de megalomania crónica, reaparece agora como presidente das comemorações dos 50 anos da Autonomia.
E, claro, não podia voltar de bolsos vazios. Vem pedir mais dinheiro. Porque, segundo ele, sem reforço de verba não consegue fazer um programa “aceitável”. Aceitável para quem? Para quem ainda sonha com o “Madeira Região Europeia 2004”, essa época dourada em que a dívida pública engordava ao som de Carreras, Diana Krall, Joaquim Cortez, Vanessa Mae e Júlio Iglesias, enquanto a conta subia e os contribuintes nem davam pela música.
E se alguém pensa que hoje as coisas são diferentes, desengane-se. A comissão que lidera reúne-se discretamente, em privado, para preparar a festa, sempre com aquela eficiência típica de reuniões em que, por acaso, cada membro recebe 200€ de senha de presença, isentos de impostos. Uma pequena compensação pelo árduo trabalho de pensar onde encaixar mais um artista de cachet milionário numa agenda já cheia de arraiais pagos pelo contribuinte. Para tal, basta uma acta feita no café, ou no ChatGPT, para que surja mais um pretexto para meter 200 balas ao bolso.
Não deixa de ser comovente ver o zelo de João Cunha e Silva por manter viva a tradição de gastar o que não há. Como se as festas fossem oxigénio e as prioridades sociais… bem, essas podem esperar.
E fica a pergunta: será que, a dois meses das eleições autárquicas, este tipo de discurso é a forma mais eficaz de ajudar o seu partido? Ou será apenas nostalgia pura por aqueles tempos em que 6 mil milhões de euros de dívida eram só mais um detalhe e a Marina do Lugar de Baixo era a joia do disparate?
Talvez fosse prudente, por amor à Autonomia, regressar ao retiro político de onde saiu. Pelo menos assim, poupava-nos a sensação de que 2024 é apenas 2004 com um filtro mais caro.
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Link da Notícia. Como a Autonomia é um exclusivo, é pedir dinheiro aos mecenas do PSD. |
Nota do MO: caro autor, não pusemos a foto enviada porque a "Asspress"/DN não autoriza. Esperamos que goste da alternativa.