O país acordou para a monstruosidade dos incêndios


B oa noite, estou há uns dias para escrever sobre os incêndios no continente, não quero parecer oportunista, mas já não resisto, vão passando muitos dias e os mais responsáveis não se tocam. Luís Montenegro parece tal e qual o Albuquerque no ano passado, também aguarda que passe e esqueça em vez de atuar em força. Não sei porquê, não confio naquela ministra de administração interna que, por azar dos azares, tem na oposição o líder do PS que já foi Ministro da Administração Interna e que vai dando as dicas do que está errado. O PS tem um "senhor" como líder, sabe falar nestes momentos.

Há incompetência, coordenação, os soldados da paz estão surpreendidos com a força e dimensão, por isso sente-se o mesmo deixa arder daqui, na esperança que depois vai esquecer. Não vi qualquer solidariedade expressa por palavras ou atos desde a Madeira, a não ser do município de Santa Cruz que disponibilizou seu corpo e bombeiros. A moeda de troca da solidariedade é a solidariedade, a Madeira já deveria ter falado, ainda por cima do mesmo partido.

Portugal está a viver um período particularmente difícil com a ocorrência de grandes incêndios florestais que já se vão juntando. O panorama atual, que se estende há cerca de 11 dias, é o resultado de uma combinação de fatores complexos e interligados, desde a origem das ignições até à forma como os fogos evoluem e se juntam.

As causas dos incêndios são diversas, e um quarto dos fogos investigados neste ano em Portugal foi causado por fogo posto. A Polícia Judiciária (PJ) já deteve dezenas de pessoas por crimes de incêndio florestal. No entanto, as ignições não são o único problema. A natureza e o clima desempenham um papel crucial. Os incêndios de grande dimensão que têm assolado o país resultam de condições climatéricas extremas. Tivemos uma primavera e início de verão chuvosos que levaram a um crescimento de muita vegetação, que se tornou um combustível perfeito com as altas temperaturas e a seca que se seguiu, agravadas por ventos fortes e que mudam de direção com frequência. Alguns fogos, como o de Arganil, também tiveram origem em fenómenos naturais, como uma trovoada seca.

Um dos aspetos mais perigosos desta vaga de incêndios tem sido a junção de frentes de fogo, que cria mega-incêndios com perímetros enormes e de difícil controlo (fico a pensar nos maquiavélicos do fogo posto a criar a "tempestade" perfeita). Um exemplo notório é o incêndio que teve origem em Trancoso (Guarda) que se juntou a um fogo que começou em Sátão, distrito de Viseu. Esta união resultou num incêndio com 729km², que consumiu dezenas de milhares de hectares, tornando-se um dos mais significativos do ano.

Até o momento, a situação tem sido especialmente crítica em áreas do interior e do centro do país, com destaque para concelhos como Trancoso, Lousã, Arganil, Sernancelhe e Vila Real. Várias povoações têm estado sob ameaça, levando à evacuação de aldeias e à mobilização de milhares de bombeiros, militares e meios aéreos.

Durante os últimos 11 dias, o país esteve em situação de alerta devido ao agravamento do risco de incêndio. A área ardida duplicou em menos de 15 dias, tornando este um dos piores anos desde os grandes incêndios de 2017. As autoridades nacionais ativaram o Mecanismo Europeu de Proteção Civil para receber apoio de outros países.

Apesar dos esforços incansáveis dos bombeiros no terreno, alguns fogos lavraram por vários dias, com frentes de fogo que chegaram a ter dezenas de quilómetros. Esta situação tem sido descrita por alguns autarcas e especialistas como um "caos" e uma "guerra", sublinhando a dificuldade em combater chamas com uma intensidade e propagação raramente vistas.

O governo, por seu lado, prolongou a situação de alerta e anunciou medidas, como a aquisição de novos meios aéreos e a revisão da política criminal para crimes de incêndio. No entanto, o enfoque mantém-se no combate no terreno, com a população a ser alertada para a importância de comportamentos cívicos que ajudem a reduzir o risco de novas ignições.

Mas, quem acompanha, parece que nada se aprende com os incêndios dos anos anteriores. Parece claro que as corporações de bombeiros deveriam fazer intercâmbio de bombeiros para que por exemplo os do sul conheçam a realidade do norte para estarem imediatamente aptos e formados para o terreno que vão encontrar. Devem haver mais meios disponíveis,

Estas situações mexem comigo, já estive envolvido num incêndio e vou anotando pormenores, aqui vão os destes 11 dias:

Maiores falhas de combate:

  • Falta de gestão da paisagem: A acumulação de mato e a falta de limpeza de terrenos criam um combustível perfeito para o fogo.
  • Atraso na deteção e combate inicial: O tempo de resposta inicial é crucial. Atrasos permitem que pequenos focos se tornem grandes incêndios.
  • Incapacidade de combate a "mega-incêndios": Os modelos de combate tradicionais são insuficientes para fogos que se tornam incontroláveis, com frentes de dezenas de quilómetros.
  • Coordenação deficiente: Falhas na comunicação e na articulação entre diferentes entidades (bombeiros, GNR, Força Aérea, etc.) no terreno.
  • Foco excessivo no combate em detrimento da prevenção: A maior parte dos recursos e do investimento é alocada ao combate, e não à prevenção a longo prazo.

Soluções propostas que ouvi:

  • Gestão ativa da floresta: Incentivar a limpeza de terrenos, a criação de faixas de gestão de combustível e a plantação de espécies mais resistentes ao fogo.
  • Reforço da vigilância e deteção precoce: Aumento de meios de vigilância terrestre e aérea, com recurso a drones e tecnologia de ponta para deteção rápida.
  • Especialização das equipas de combate: Criar unidades de elite treinadas especificamente para combater incêndios de grande dimensão em terrenos complexos.
  • Melhoria da coordenação: Investir em sistemas de comunicação unificados e em centros de comando e controlo que permitam uma visão integrada da situação.
  • Redefinição da estratégia nacional: Mudar o paradigma de combate para um de prevenção, com mais recursos para a sensibilização, ordenamento do território e fiscalização.
Se os bombeiros e governantes também registam, que previnam e formem melhor, vemos sempre muitas falhas e insuficiências, o PRR não serve? Sente-se que incêndios ocorrem e ninguém muda nada para o seguinte quando a natureza está cada vez mais agreste.

Uma boa semana a todos.

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