O regresso do filho pródigo...


… à Assembleia Municipal

O caso do Dr. José Luís Nunes dava uma novela mexicana. Daquelas longas, cheias de lágrimas falsas, música dramática e reviravoltas de enredo que deixam qualquer um perdido no episódio anterior. O homem apareceu primeiro como candidato a presidente da Câmara do Funchal, com toda a pompa e circunstância, do alto do pedestal, como quem já se via a cortar a fita da Avenida do Mar. Mas eis que, num ápice, retira-se. Motivos pessoais, dizia.

Foi um adeus solene, quase épico. Tão épico que parecia definitivo. O povo até suspirou: que grandeza, que sentido de sacrifício, que nobreza. Só que não. Porque bastaram uns dias para a realidade trocar a fita dourada por uma cadeira de madeira: afinal, o mesmo José Luís reaparece, mas desta vez como candidato a presidente da Assembleia Municipal.

A diferença entre os dois cargos é abismal. É como sonhar ser protagonista de Hollywood e acordar figurante em novela da tarde. E o que poderia ter sido uma retirada digna, ainda que coberta de desculpas, transformou-se em humilhação política. De comandante da nau passou a revisor de bilhetes.

E o partido, esse, parece uma espécie de guionista de telenovela de baixo orçamento. Ora apresenta um herói, ora mata a personagem, ora ressuscita-a de forma pouco convincente. O PPD é hoje um argumento cheio de troca-tintas, mais enredado que casamento em novela mexicana.

José Luís, que subiu ao palco de peito cheio, acaba agora sentado numa cadeira lateral, tentando convencer-nos de que tudo isto fazia parte do plano. Mas convenhamos: quem se retira com tanto aparato e regressa para um papel secundário, não ganha estatuto, perde espinha dorsal.

E a pergunta fica no ar, inevitável: depois de tanto vaivém, de tanto dito por não dito, o que é que resta? Resta apenas a sensação de que a política funchalense se transformou numa tragicomédia. Onde os protagonistas, em vez de governar, ensaiam coreografias de entrada e saída de cena.

E se alguém tinha dúvidas, agora já não tem: motivos pessoais é apenas a cortina. Atrás dela, o que há é simples vaidade, incapacidade de dizer basta e um certo apetite por qualquer cadeira, seja ela qual for.

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