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Bom seria procurar os ostracizados e sem oportunidade. |
A RTP Madeira lançou este ano a série Músicos da Nossa Terra. Doze episódios, supostamente para dar palco aos artistas da Madeira e do Porto Santo. Na prática? Uma telenovela cultural produzida em série, onde as histórias são quase sempre as mesmas, as caras (salvo raras excepções) repetem-se, e a seleção parece mais ditada pela amizade do que pelo mérito.
O jornalista responsável, Filipe Alexandre Gonçalves, vende isto como um mergulho “no lado difícil de ser artista”. Difícil? Difícil é entrar no programa sem estar alinhado com o círculo do costume. Difícil é ver quem realmente trabalha, quem arrisca, quem faz arte a sério, ser sistematicamente ignorado porque não se encaixa na narrativa oficial ou não tem a bênção pessoal do entrevistador.
E aqui vale a pena contar uma cena que circula entre artistas. Houve um colega que lidou com este jornalista noutros tempos: primeiro eram mensagens cheias de açúcar, estilo novela mexicana, “meu querido amigo”, “vai acontecer”, “és especial”. Quando percebeu que não dava frutos, a melodia mudou: silêncio, vingança e portas fechadas. O jornalista transformou-se em juiz e carrasco, deixando o profissionalismo no bolso para dar palco apenas aos seus favoritos.
É este o serviço público que nos vendem: documentários que são mais diários íntimos do próprio jornalista do que retratos verdadeiros da música madeirense. Um talk-show de almofada, onde se chora, se suspira e se faz pose de estrela incompreendida, mas onde a diversidade cultural e a seriedade jornalística ficam de fora.
E não é só o programa. A própria RTP Madeira é o reflexo de um sistema estagnado, sem ideias, sem visão, sem coragem de fazer serviço público a sério. Uma casa a arder, onde se reciclam sempre os mesmos formatos, os mesmos nomes e os mesmos vícios.
No fim, “Músicos da Nossa Terra” não mostra os músicos da nossa terra. Mostra apenas os músicos da sua agenda. Os outros, os que não alinham, os que não vendem a alma por um close-up e uma lágrima de novela, esses ficam no silêncio.
A pergunta impõe-se: estamos a falar de cultura ou de autopromoção com dinheiro dos contribuintes?
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