A Ilha da Madeira voltou a estremecer com um novo caso de violência doméstica, mais uma mãe, mais uma criança ferida, e mais uma vez a sensação de impotência nos corações de tantos madeirenses. Paula Margarido veio à televisão, voz firme e clara, exigir que “ninguém se cale perante a atrocidade” da violência dentro do lar. Mas, cara secretária, o que tem sido feito na prática, quer pelas vitimas quer aos agressores?
Na Madeira, o fenómeno é particularmente expressivo. O arquipélago tem uma das taxas mais elevadas de violência doméstica do país, cerca de 3,4 crimes por mil habitantes em 2018, bem acima da média continental, que rondava os 2,5. No passado, esse valor já chegou a 3,9 por mil habitantes. Recorde-se que o concelho de Machico chegou a atingir 5,43 casos por mil habitantes, uma realidade chocante que urge confrontar.
O alcoolismo e outras dependências têm um papel estreito nesta chaga. Dados do II Plano Regional contra a Violência Doméstica mostram que mais de metade dos novos casos têm ligação ao consumo de álcool ou estupefacientes. Isto significa que, por trás de muitas agressões, há dor, fragilidade e, sobretudo, um grito por ajuda que a sociedade muitas vezes ignora.
Há, sim, redes de apoio em funcionamento. Será que actuam mesmo?
Será que chegam para resolver o problema? Não. A sociedade madeirense falhou naquela mãe e naquela criança — falhamos todos, e continuamos a falhar. Há tradição, convivência estreita acompanhadas de silêncio cúmplice. A violência doméstica cresce, vê-se alimentada pela opacidade e omitida pelo medo. E enquanto isso ocorrer, nenhuma casa estará segura.
Como política, Paula Margarido deveria apresentar medidas concretas, e urgentes, para reverter este cenário
Ensinar o respeito na infância, reforçar a igualdade no namoro, cultivar a empatia na adolescência, promover a justiça e a solidariedade entre adultos. Educação constrói sociedades mais humanas, onde ninguém se cala, onde ninguém permanece vulnerável.
A Madeira precisa de ressurgir, não como ilha intocada pelo problema, mas como território que reconhece as suas falhas e se levanta, com dignidade e ação, para proteger cada lar.
Não podemos falhar mais.
E muito menos ter como exemplos de agressão a mulheres membros do governo como Eduardo Jesus. Sim, porque a agressão não é só física. Comecemos por ai como sociedade.
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