Amor estudantil


A Associação de Estudantes da Universidade da Madeira, pomposamente chamada ACADÉMIA — um nome que cheira a cultura, mas que na prática fede a maquinaria de dinheiro disfarçada de movimento estudantil. Supostamente sem fins lucrativos, mas com cheques tão generosos que fazem corar muitas empresas privadas.

Exemplo máximo? O atual candidato do PSD à Câmara do Funchal, o nosso já conhecido Jorge Carvalho, que nos bons velhos tempos presidiu à associação e, pasmem-se, ganhava milhares de euros. Sim, milhares. Não estamos a falar de ajudas de custo ou reembolso de fotocópias: falamos de um ordenado digno de gestor sénior… numa associação que, em teoria, devia funcionar à base de voluntariado e amor à camisola. Mas claro, na UMa, até o “amor à camisola” vem com fatura e NIB.

E depois ainda há os eternos estudantes — aqueles que vagueiam há décadas pelos corredores, sem nunca acabar o curso, mas sempre disponíveis para mamar no tacho associativo. É quase um estágio permanente em “gestão de fundos próprios para benefício próprio”. Um modelo tão genial que só falha num detalhe: os alunos de verdade ficam a ver navios, contentando-se com migalhas, como as famosas cadeirinhas de esplanada compradas “para os estudantes beberem um café”. Uma esmola pública para justificar a festa privada.

E no meio disto tudo, claro, está a complacência do reitor da UMa. Sempre de sorriso sereno, sempre com aquele ar de quem “não viu nada” e “não sabia de nada”. É o silêncio cúmplice que alimenta o sistema: deixa-se andar, fecha-se os olhos, tolera-se a promiscuidade entre política e academia. Afinal, para quê enfrentar a podridão, se é mais fácil posar para a fotografia enquanto a universidade se transforma num bar de tachos com estatuto académico?

Na verdade, a ACADÉMIA é a incubadora perfeita de futuros políticos madeirenses: aprendem cedo a gerir dinheiro dos outros, a mascarar interesses pessoais com discursos de “servir os colegas”, e a transformar o associativismo em rampa de lançamento para cargos bem pagos. É o PSD em versão universitária: betão transformado em cafés, tachos embrulhados em cadeiras, e a corrupção embrionária vestida de hoodie académico.

Enfim, a UMa já tem poucas aulas e menos alunos, mas pelo menos sobra sempre história — cada uma mais obscura que a outra — desta associação que devia ser dos estudantes, mas que há muito tempo é apenas dos espertos.