A ndré Ventura. Sim, esse mesmo. O homem que diz ser diferente, mas viveu sempre à nossa conta. Tirou curso no ensino público, pago por todos. Trabalhou como funcionário público em Loures. Foi professor universitário. Trabalhou na Autoridade Tributária. Virou deputado. Sempre com salário do Estado. Sempre pago pelo povo.
Fala contra o sistema, mas nunca largou o sistema. Durante 17 anos foi PSD. Saiu quando já não servia. Agora grita que é “antisistema”, mas a vida dele foi sempre feita no sistema. O revolucionário dos tachos. O herói do subsídio. O homem que berra contra privilégios, mas nunca recusou os seus.
Consultor de uma empresa amiga de offshores. Empresa que ajuda milionários a fugir ao fisco. Que vende Vistos Gold. Ventura fala de “patriotismo”, mas trabalha para abrir portas a estrangeiros ricos. Grita contra corrupção, mas quando há votações sobre corrupção ou fiscalidade, desaparece. É recordista de faltas no Parlamento. O atleta da abstenção.
Quando aparece, fala de tudo e do seu contrário. Sempre certo, sempre dono da verdade. Como um Nostradamus do disparate. O deputado contra a pedofilia que também defendeu descriminalização de crimes sexuais contra menores acima dos 14. O moralista que promete exclusividade, mas arranja mais cinco trabalhos de luxo.
Prometeu cortar tachos, mas contratou logo seis assessores. Fez campanha contra subvenções vitalícias, mas escolheu como porta-voz alguém que recebia uma. Diz que o partido não é nazi, mas mete nazis na direção. O patriota que não vai às cerimónias do 25 de Abril, mas corre ao Parlamento para gritar que “não deve ir”. O mesmo que, em plena escadaria, disse estar “nas tintas para a Democracia e para a Constituição”.
Este é o líder que promete “resgatar Portugal”. Mas resgata apenas a sua pele. É contra todas as manifestações, menos as suas. Quer acabar com o Estado Social, mas nunca com o Estado que lhe paga ordenado. Ataca tudo e todos, mas cala-se sobre os negócios que lhe são úteis.
Ventura é um paradoxo vivo. O antisistema do sistema. O moralista do offshore. O salvador da pátria que só sabe salvar-se a si próprio. A sua carreira é feita de gritos, contradições, e teatro barato. Um espalha-brasas que mente sem vergonha, e que alguns ainda chamam de talento.
O perigo está aqui: não é novidade. Não é solução. É mais um. Piorado. Com barulho, contradições e espetáculo. Ventura não traz futuro. Traz apenas divisão, raiva e mentira. O povo merece respeito, soluções reais, e líderes sérios. Ventura não é nada disso. Ventura é o problema, mascarado de solução.