As obras aumentam a esperança de vida


Era de construir mais um hospital, obras,
em vez de investir em hábitos saudáveis de vida.

O nível do nosso jornalismo, cá na região, roça um sketch dos Monty Python. Hoje na capa, a notícia de que o novo hospital vai prolongar a esperança média de vida dos madeirenses e dos habitantes locais. Boa, pensei eu, vamos conseguir chegar aos níveis de esperança média de vida daquela malta que vive no meio da poluição e stress, em Lisboa

No triénio 2021-2023, a esperança de vida à nascença em Portugal era de 81,17 anos (78,37 para homens e 83,67 para mulheres). A Madeira registou uma esperança média de vida de 79,07 anos (75,44 para homens e 81,92 para mulheres) nesse mesmo período. A Área Metropolitana de Lisboa tem os valores mais elevados, com 81,17 anos para o total da população"

Sempre seriam mais dois anos. A minha esperança (não a de vida, mas a outra) levou-me a imaginar que o novo hospital, apesar de ter menos camas do que o SESRAM tem neste momento, ia ter um sistema inovador para acabar com os doentes nos corredores e as altas problemáticas. Comecei por imaginar um hospital centrado no utente, onde as listas de espera para exames e diagnósticos fosse um mito urbano, e até onde os equipamentos funcionavam mesmo (neste momento o privado consegue fazer maior números de RM do que o SESARAM com o dobro dos equipamentos).

Dei por mim a pensar em médicos a cumprir horários, enfermeiros com tempo de folga suficientemente legal para descansarem, enfermeiros gestores de verdade e técnicos de saúde com carreira valorizada. Dei por mim a sonhar que havia papel higiénico, elevadores a funcionar, e medicamentos. Sim, um hospital com medicamentos!

Ao folhear o pasquim, a desilusão foi grande. Afinal, não se falava de nada disto, e era só uma opinião e elogios dos arquitetos que, pasme-se, fizeram, eles próprios, o projeto. Não veio de nenhuma entidade ligada à saúde, de nenhum professor internacionalmente reconhecido ou da OMS. Não... encheram a capa e duas páginas com tretas e propaganda do gabinete de arquitetura que fez o projeto. 

O jornalismo está como a Saúde na Madeira: moribundo. Com notícias a morrer nos corredores, para ter propaganda em quartos particulares. A dar opiniões como se fossem factos ou notícias. Da próxima vez que queiram ter piada, metam, como destaque da capa, a opinião do Pedro Nunes, pelo menos as gargalhadas serão por piadas com mais graça.

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