Já pensaram no que se podia fazer com 370 mil euros de dinheiro público?
E sse valor podia ser usado para ajudar quem não consegue pagar a renda. Podia apoiar famílias que passam dificuldades para fazer compras ou pagar as contas do mês. Podia melhorar a vida de quem trabalha e sente o peso da crise. Mas não. O Governo Regional achou que fazia mais falta num jornal que ninguém compra, ninguém lê e que só existe para elogiar os senhores que estão no poder.
Falamos da EDN, a empresa responsável pelo famoso folheto da Fernão Ornelas. Em 2024, a EDN faturou 3,5 milhões de euros, o que representa menos 14% do que em 2023. Estão a vender menos, a perder leitores e a afundar-se no mercado. Mesmo assim, lá veio o apoio do costume. O subsídio do MEDIARAM, no valor de 370 mil euros, caiu direitinho na conta. Dinheiro público, claro. O suficiente para garantir que o jornal continue calado quando convém e ajoelhado quando é preciso.
Mesmo com esse empurrão, o jornal deu prejuízo. O resultado operacional foi negativo em 162 mil euros e o prejuízo total em 2024 foi de 248 mil euros. Ou seja, gastam mais do que aquilo que ganham. E quem tapa o buraco? Todos nós. Os que pagam impostos. Os que não têm jornais a puxar-lhes o saco.
Reduziram 40% nos custos com papel e materiais, provavelmente porque já ninguém pega naquela coisa. Mas aumentaram os gastos com pessoal em 6%, mantendo 62 funcionários, só menos um do que no ano anterior. Continuam a gastar bem e a render pouco. Mas não faz mal. Enquanto houver subsídio, há jornal.
E porquê manter de pé um jornal que não dá lucro e que não informa ninguém? Porque continua a ser útil para quem manda. Serve para fingir que há liberdade de imprensa, quando na verdade só serve como microfone do Governo Regional. Não se lê uma linha sobre a extração de pedras na ribeira. Não se toca no monopólio dos portos. Passa-se ao lado dos negócios entre amigos. E nem uma palavra sobre certos casos menos claros, que envolvem o desgoverno e os seus mochachos, sempre bem protegidos de qualquer manchete incómoda.
Em 2023, a EDN comprou a quota da empresa Ramventos à EJM. Em 2024, vendeu parte da participação que tinha na Publifunchal, passando de 60% para 24%. A estrutura acionista também mudou. Os 11% que eram da Controlinveste passaram para a Global Notícias, que também é dona de jornais como o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias do continente. No fim, está tudo em família. Os mesmos donos, os mesmos interesses, a mesma linha.
O problema disto tudo é que estamos a pagar com o nosso dinheiro uma comunicação social que não serve as pessoas. Serve o poder. Isto não é liberdade de imprensa. É propaganda bem financiada.
O MEDIARAM foi criado para apoiar o jornalismo independente, mas o que temos são jornais de joelhos, dependentes do subsídio e incapazes de fazer o trabalho para o qual existem: informar com verdade, investigar com coragem, denunciar sem medo.
Se isto não é gozar com quem trabalha todos os dias, então já ninguém sabe o que é. Estamos a pagar para ser enganados. Falta só abrirem uma nova igreja para o senhor padre fazer as missas do Evangelho segundo São PSD e São Albuquerque, com direito a leitura do boletim laranja e bênção final do orçamento.
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social devia agir. De verdade. Porque uma comunicação social de joelhos é sinal de uma democracia doente. E o que se está a passar na Madeira é tudo menos saudável, até na redação ao sabor da espetada no restaurante viola.
Fonte dos dados financeiros: Relatório e Contas da EDN – Empresa Diário de Notícias da Madeira, 2024
