Escolas de condução ensinam, rent-a-cars desensinam


N a Madeira, existe um paradoxo rodoviário que todos conhecem mas poucos assumem: as escolas de condução formam condutores responsáveis, mas as rent-a-cars acabam por ensinar o contrário, não de forma intencional, pela forma como colocam milhares de turistas ao volante sem qualquer adaptação às regras locais e intencional pela forma como instruem a não cumprir com o código de estrada.

O exemplo das rotundas é gritante. O madeirense aprende — e pratica na maioria das vezes quando pode — que a faixa interior serve para circular e a exterior para sair. Mas basta observar o comportamento dos turistas em carros de aluguer para perceber que, para eles, a regra é inexistente: entram, ficam na faixa de fora do início ao fim, e esperam que tudo corra bem. O problema é que nem sempre corre bem. Se um condutor local, cumprindo a lei, muda de faixa para sair e se cruza com um turista que vem "tranquilamente" por fora, a responsabilidade recai quase sempre sobre o madeirense, porque muda de faixa. Resultado: quem respeita as regras sai prejudicado.

Este tipo de situações repete-se diariamente e gera um efeito perverso. O madeirense, cansado de perder por cumprir, começa a adotar uma condução defensiva que, na prática, significa ignorar o Código de Estrada para se proteger. Assim, instala-se o caos: a regra deixa de valer porque já ninguém acredita que valha a pena respeitá-la.

É evidente que o turismo é vital para a economia da Madeira, mas será aceitável sacrificar a segurança rodoviária em nome disso? A proliferação de rent-a-cars, sem qualquer esforço de adaptação às regras portuguesas, transforma as estradas numa arena de sobrevivência. Os locais são obrigados a abdicar da lei para evitar acidentes provocados por quem nem quer conhecer as normas, basta-lhes os conselhos das rent-a-cars. A responsabilidade é das autoridades e das próprias empresas de rent-a-car, que deveriam assumir um papel ativo na informação e sensibilização. Um simples folheto com regras básicas de circulação, sinalização mais clara em pontos críticos e campanhas de consciencialização fariam toda a diferença. É que avisar não vai permitir mentirinhas de turista!

Enquanto isso não acontecer, o madeirense continuará a viver entre a teoria das escolas de condução e a prática das rent-a-cars. E, infelizmente, no choque entre o civismo e o improviso, quem perde é o civismo perante o chico-espertismo.