Ninguém do PSD se demite por mais grave que seja a situação?


A minha análise é dos atores atuais e no fim uma pérola, talvez o início disto tudo, efectivamente Albuquerque parece o primeiro a iniciar o jogo da permanência, mas não foi, do que vou expor só um se demitiu e acho que foi por conselho do advogado de defesa, mesmo assim ele tenta tudo para não se demitir da política, até que outros da mesma estirpe o encostaram definitivamente ... por enquanto.

1. Miguel Albuquerque (PSD Madeira)

Em janeiro de 2024, Miguel Albuquerque foi alvo de buscas no âmbito de um inquérito da Polícia Judiciária por suspeitas de corrupção. Inicialmente, recusou demitir-se, afirmou que “não me vou demitir”, com “consciência tranquila” e que iria colaborar com as autoridades. Depois houve eleições, depois de afirmar que se não conseguisse maioria absoluta se demitiria da liderança do PSD Madeira, Miguel Albuquerque simplesmente não se demitiu. 

2. Eduardo Jesus (PSD Madeira)

Em junho de 2025, durante debate sobre o Orçamento, dirigiu insultos misóginos (como “gaja”, “burra do car…”, "bardamerda" e “palhaço-mor”) a deputadas do PS e a um deputado do JPP. Formulou-se uma petição pública exigindo a sua demissão, com centenas de assinaturas. O PS/Madeira, através de Paulo Cafôfo, exigiu claramente: “Quem insulta não tem condições para continuar no Governo… exijo a demissão de Eduardo Jesus”. Apesar disso, com orgulho e desfaçatez, Eduardo Jesus apenas pediu desculpas formalmente à presidente da ALRAM. Não houve demissão, mesmo diante da insatisfação generalizada, ameaças de quebra de apoio político e apelos explícitos à demissão, Eduardo Jesus manteve-se no cargo. Hoje é desconsiderado e há jornalistas que ainda o fazem de coitadinho.

3. Luís Montenegro (Primeiro-Ministro / Líder do PSD)

Em março de 2025, com um clima de suspeição sobre a empresa familiar (Spinumviva), Montenegro afirmava que “não tenho razão para me demitir”, negando ter recebido benefícios ou cometido ilegalidades. Claro que Miguel Albuquerque também defendeu publicamente Montenegro para resguardar a sua parte, “não há motivo para o primeiro-ministro se demitir”, questionando, “Ele roubou alguma coisa?” Sobre Montenegro, há acusações de irregularidades na criação e transferência de empresas, pagamentos questionáveis a familiares e conflito de interesses por concessões renegociadas, conclamando que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) era legítima. Há poucos dias escondeu 55 imóveis do escrutínio público. Até a data atual de setembro de 2025, não houve demissão de Montenegro. Apesar das acusações e mobilização cívica, Luís Montenegro permanece no cargo. A estratégia parece ser resistir e se defender, sem deixar de governar.

4. Carlos Moedas e o elevador da glória... decorre.

O padrão não é de demissão por peso político ou moral, mas de resistir até que a pressão torne a permanência insustentável. A cultura partidária e a estrutura proporcionam espaço para reagir em vez de ceder. O único insustentável até para o advogado de defesa foi Pedro Calado que acabou finalmente cadáver político por interferências na feitura das listas para as Autárquicas no Funchal.

Quando dirigentes políticos se agarram ao cargo mesmo em situações manifestamente insustentáveis, como se viu com Miguel Albuquerque, Eduardo Jesus ou Luís Montenegro, a erosão não é apenas da sua própria imagem: é da confiança coletiva no sistema político. Eles são os actores de um partido tradicional que está a chamar os extremistas. Estão a deteriorar a democracia:

  • Normalização da impunidade – transmite-se a ideia de que não há consequências políticas sérias para más práticas, insultos, suspeitas de corrupção ou promessas não cumpridas.
  • Descredibilização das instituições – a Assembleia, os governos regionais e nacionais perdem autoridade moral quando quem os dirige se mantém a qualquer custo.
  • Cinismo social – a população deixa de acreditar que a política serve o interesse público e aumenta a abstenção e o populismo, já que “são todos iguais” se torna mantra.
  • Bloqueio da renovação – novos quadros políticos e lideranças ficam sem espaço porque os dirigentes não saem, mesmo em casos que pediriam uma passagem de testemunho.
A Direita Dura, que se apresenta como guardiã da moralidade, da seriedade e da “lei e ordem”, quando a pressão recai sobre os seus próprios quadros, a regra torna-se outra: desvalorizar, negar, relativizar, resistir. Mentir também lhes vale.

Exemplos internacionais recentes, que mostram como a cultura política lá fora encara a responsabilidade política de forma muito diferente da nossa:

Reino Unido: Boris Johnson (2022) – Primeiro-ministro conservador, caiu por causa do Partygate, isto é, festas em Downing Street durante o confinamento da Covid. Apesar de ter vencido eleições com maioria absoluta e de ainda ter apoios internos, a sucessão de escândalos e a perceção de falta de seriedade levaram ao abandono forçado. Liz Truss (2022) – Demitiu-se ao fim de apenas 44 dias, depois de uma proposta orçamental que gerou pânico nos mercados. Não houve ilegalidade, mas o erro de governação foi suficiente para a saída.

Alemanha: Franziska Giffey (2021) – Ministra da Família (SPD), renunciou após suspeitas de irregularidades na sua tese de doutoramento. Nem sequer era acusada de corrupção, mas a perda de credibilidade bastou. Karl-Theodor zu Guttenberg (2011) – Ministro da Defesa (CSU), renunciou pelo mesmo motivo: plágio académico. Era popularíssimo, mas entendeu-se que não tinha condições de manter o cargo.

Japão (a cultura política japonesa é das mais rigorosas): Em 2022, ministros de Estado (ex.: Minoru Terada, da Administração Interna) apresentaram a demissão por alegações de má utilização de fundos eleitorais. Em 2021, Yoshihide Suga, primeiro-ministro, deixou o cargo depois de críticas à gestão da pandemia, sem sequer ter havido ilegalidade.

França: Ministros caem com frequência por pequenos conflitos de interesse. Ex.: François de Rugy (2019), ministro da Transição Ecológica, renunciou após escândalo sobre jantares de luxo pagos com fundos públicos.

Enquanto em democracias maduras a responsabilidade política é preventiva (demite-se para não arrastar o governo ou o partido para o descrédito), no caso português vemos o oposto com o PSD. A regra é resistir até ao fim, transformar a crítica em perseguição política, esperar que o tempo “resolva”. No PSD e na sua ala mais dura, isto é especialmente evidente: Albuquerque, Eduardo Jesus e Montenegro ilustram a tendência de relativizar problemas e evitar demissões a todo o custo. A ironia é que partidos que se apresentam como guardiões da ética e da ordem pública são os mesmos que, na prática, menos aceitam a responsabilidade política como fator de saída.

Lá fora, a demissão é vista como acto de responsabilidade e dignidade.
Cá, e sobretudo na direita dura, a permanência é vista como sinal de força, mas acaba por corroer a confiança na democracia e agravar o fosso entre cidadãos e instituições.

Quer dizer... na Madeira não se nota...

Fica uma pérola: