A divisão de votos na oposição é uma das mais valias do PSD que o faz ganhar, porque eles sim concentram o voto. Tudo isto é empírico, pelas simples razão de que todos são ambiciosos e apostam num bom resultado... para si. Percebemos que é algo pessoal.
O voto útil é uma estratégia de abordagem que visa maximizar as hipóteses de derrotar o partido no poder, neste caso, o PSD. A ideia central é evitar a dispersão de votos por vários partidos da oposição e concentrá-los naquele que tem maior probabilidade de vencer. Sem planeameto isto já aconteceu na Madeira, nas Regionais em que Cafôfo recebeu o voto útil, mas não deu para ganhar... e depois não soube aproveitar.
A estratégia baseia-se na teoria de que um único candidato forte da oposição tem mais hipóteses de vencer um candidato do PSD, do que vários candidatos fracos a competir entre si. A forma de a implementar é complexa e requer uma série de passos e acordos. Nenhum foi feito pelos partidos nestas Autárquicas, a não ser o PSD com o CDS e, em certa medida em grupos de cidadãos que falharam. Há sempre alguém para roer a corda pelo PSD por um tachinho.
Mas os eleitores sim podem fazer alguma coisa!
O primeiro passo seria identificar qual dos partidos ou candidatos da oposição está em melhor posição para vencer em cada freguesia e em cada concelho. Isso pode ser feito constatando as candidaturas fortes, através de sondagens, análise de resultados de eleições anteriores e avaliação da popularidade dos candidatos. É crucial que o processo seja transparente para que o eleitorado e os outros partidos da oposição o aceitem.
Uma vez identificado o "candidato útil", os outros partidos da oposição teriam de concordar em não apresentar os seus próprios candidatos em certas câmaras municipais ou, idealmente, formar uma coligação. Esta coligação pode ser formal (com uma lista única) ou informal (com os partidos a apelar publicamente ao voto no candidato mais forte), é a situação em que estamos pois queimaram-se os outros passos.
A estratégia de "voto útil" só funciona se o eleitorado for mobilizado para a apoiar. Isso exige uma comunicação clara e coordenada por parte de todos os partidos envolvidos. A mensagem central seria que "a derrota do PSD é mais importante do que as nossas diferenças políticas". O grande problema é a humildade para isso.
Pontos Fortes da Estratégia
- Ao concentrar os votos, a oposição tem uma hipótese real de vencer em câmaras onde, de outra forma, perderia.
- O voto de cada eleitor de oposição torna-se mais eficaz, pois não é "desperdiçado" num candidato sem hipóteses de vencer.
- A vitória numa ou mais câmaras municipais enfraqueceria o poder do PSD e poderia abrir caminho para futuras vitórias.
Pontos Fracos da Estratégia
- Os partidos mais pequenos ou menos populares podem ser vistos como a abdicar da sua própria identidade em prol de um partido maior.
- A estratégia pode gerar críticas internas nos partidos que aceitam não concorrer, com acusações de que estão a abdicar do seu direito democrático.
- O sucesso da estratégia depende de acordos e compromissos que podem ser difíceis de manter entre partidos com diferentes ideologias e objetivos.
O cenário ideal seria um bloco de oposição unificado e forte que, através do "voto útil", consegue vencer em câmaras estratégicas, como o Funchal. Isso daria um golpe significativo no poder do PSD e mudaria o mapa político da Madeira.
Cenário realista, a estratégia de "voto útil" é difícil de implementar na prática. Muitos partidos e candidatos não quererão abdicar das suas ambições. O mais provável é que se tentem acordos informais em algumas câmaras, mas sem uma unificação total.
Em suma, a estratégia de "voto útil" é uma abordagem lógica no papel, mas a sua aplicação requer um grande consenso e disciplina entre os partidos da oposição. A sua implementação bem sucedida poderia realmente mudar o panorama político na Madeira, mas a falta de vontade em abdicar de interesses próprios pode ser o maior obstáculo.
Os 50 anos não pesam? Claro que não, o orgulho, a fraca carne e permitir que o PSD ganhe é "tradicional" e alguns da oposição acham que passam menos vergonha assim. Imaginem vir outro partido a fazer melhor, alguns ainda assim correm esse risco...
Agora é tarde para "organizem-se".