Tiram o gado da serra para meter turistas empoleirados no Fanal?


U ma vaca ou uma cabra come e dejeta, corta a relva, abate as infestantes, mas nunca as vi empoleiradas numa árvore do Fanal, apesar das cabras serem trapezistas. O Fanal não pode ser deixado à sua sorte. Passei neste sábado pelo Fanal, um dos lugares mais emblemáticos da Laurissilva da Madeira, e saí de lá revoltado. Fui ver com os meus olhos e está pior do que leio.

O que vi foi desolador, árvores centenárias com rebentos danificados, galhos partidos, solo de terra batida calcado por quem circula fora dos trilhos. Aquilo que devia ser um santuário natural, reconhecido internacionalmente pelo seu valor, está a ser posto em risco diante dos nossos olhos. Centenas de anos de natureza nas mãos e "patas" de gente que não lhe dá valor, só querem a foto.

O Fanal não é apenas mais uma paisagem bonita para fotografar. É um pedaço vivo da nossa identidade, parte da floresta Laurissilva classificada como Património Mundial da UNESCO. Cada árvore ali tem décadas ou séculos de história, e a sua regeneração não se faz de um dia para o outro. Quando um rebento é pisado ou arrancado, um galho quebrado, não é apenas uma árvore que se perde, é o futuro da floresta que se compromete, a nossa identidade natural.

Ainda fico mais revoltado quando penso naquele evento de terroristas ambientais em versão polida a reconhecer um ou outro problema mas o caminho é ainda mais, a tal elasticidade.

É legítimo perguntar: quem está a proteger o Fanal? Esteve representado no evento de Turismo? Será normal que turistas caminhem por todo o lado sem respeito pelos percursos delimitados, contribuindo para a erosão e degradação do solo? Fiz algumas viagens e pedras são mais preservadas do que seres vivos na Madeira, porque são pedaços de história, mas ambos os casos são pedaços de história.

Não podemos assistir passivamente. As entidades competentes: o IFCN, o Turismo da Madeira e o próprio Governo Regional, têm de agir. Urgentemente.

As medidas são conhecidas:

  • reforço da vigilância e da fiscalização;
  • limitação do estacionamento e circulação fora dos trilhos;
  • campanhas de sensibilização dirigidas a visitantes e operadores turísticos.

É tempo de deixar claro que o Fanal não é um parque temático nem uma “terra de ninguém”. É um património coletivo, e cabe-nos exigir que seja tratado como tal.

Lanço este apelo a todos os que amam a Madeira e a Laurissilva: falem, partilhem, marquem as entidades responsáveis, enviem e-mails, pressionem. Cada voz conta. Se nada fizermos, perderemos mais do que árvores, perderemos parte da nossa memória e do nosso futuro.

O Fanal merece ser defendido. Agora.