C ristina Pedra conseguiu o impensável: transformar uma decisão de quase 9 milhões de euros numa anedota de mau gosto. Comparar uma ETAR a um ar condicionado — porque, segundo a presidente da câmara, quando se abre “perde o efeito” — é de um nível de superficialidade que envergonharia qualquer responsável político minimamente sério.
Estamos a falar de saneamento básico, de saúde pública, de qualidade de vida dos funchalenses. Mas para Cristina Pedra, basta abrir a janela da viatura, cheirar o ar e… pronto, problema resolvido. Não há cheiro? Não há problema. Eis o novo método científico da governação municipal: o “teste olfativo presidencial”.
O mais grave é que decisões desta magnitude, com impacto direto no futuro da cidade, são tomadas em vésperas de eleições. Sem planeamento rigoroso, sem estudos sérios, sem qualquer visão estratégica. Apenas um gesto apressado, para ficar bem na fotografia e deitar para trás das costas um dossiê incómodo. É política de ocasião, feita à pressa e à medida do calendário eleitoral.
E já que não lhe cheirou nada no “terreno” que visitou, sugiro-lhe um roteiro olfativo alternativo: passe pelo Lido, pelo Gavinas, pela Praia de São Tiago ou pela Praia Formosa. Aí sentirá o bouquet inconfundível de esgoto a céu aberto, que envergonha qualquer cidade moderna. Um perfume pestilento que nos recorda, todos os dias, a falência de uma gestão sem rumo, sem responsabilidade e sem vergonha.
É inadmissível que, no século XXI, o Funchal ainda conviva com este flagelo. Mais inadmissível ainda é ter uma presidente de câmara que trata um investimento estratégico como se fosse uma birra eleitoral. A leveza com que se tomam estas decisões roça a irresponsabilidade criminal.
Cristina Pedra não governa: improvisa. E, ao improvisar, compromete o futuro da cidade. Porque não basta que “não cheire mal” para estar bem. O Funchal merece bem melhor que um futuro novamente de PSD.