Bom dia a todos.
Como informar numa era de aversão à leitura e de oligopólio mediático? Como não navegar pelo caos da informação, gerado por uma comunicação social cada vez mais associada a grupos de interesse...
O modelo tradicional de transmissão de informação, baseado na leitura e na análise aprofundada, colapsou perante a ditadura do scroll e do like. As pessoas não são apenas "avessas a ler"; elas estão programadas, pelos próprios dispositivos que usam, a preferir a estimulação visual e os títulos hiperbolizados. Os algoritmos vão dando mais do que já leram, confinando, e os telemóveis ouvem para nos dar a publicidade na mouche.
Como podemos, então, informar eficazmente e prevenir os erros do passado quando a paisagem mediática é dominada pela "inteligência natural" (a perspicácia humana e algorítmica) de entidades corporativas e meios de comunicação sustentados por elas? A resposta passa por três grandes estratégias: a adaptação ao formato, a criação de credibilidade visceral e a luta pela curadoria.
Vejo uma insistente luta do Madeira Opina por textos objectivos de comentário à atualidade regional, o seu combate aos textos de ChatGPT e sucedâneos, a moderação das instrumentalizações, foi por isso que decidi enviar este texto. Vão ao encontro do que vou dizer...
A batalha pela atenção não se ganha com textos longos, ganha-se na fração de segundo em que o polegar hesita antes de deslizar para cima. A informação complexa deve ser decomposta em módulos curtos e independentes. Isto significa usar carrosséis de imagens, vídeos curtos (15-60 segundos), gráficos e infographics minimalistas para veicular uma ideia. O texto que acompanha tem de ser uma ancoragem (a headline), não a mensagem completa.
A informação mais importante deve ser apresentada em listas de pontos. O cérebro processa listas mais rapidamente e sente a satisfação de ter completado a leitura de um módulo informativo. É o poder da "Análise em Ponto de Bala" (Bullet Points).
O vídeo não é apenas para entretenimento. Vídeos verticais bem produzidos, com legendas eficazes (pois muitos são vistos sem som) e um tom direto e humano (não corporativo) podem transmitir empatia e complexidade de forma rápida, superando a barreira da aversão à leitura, são as narrativas visuais sinceras.
O grande desafio da "inteligência natural das empresas" é que ela não se preocupa com a verdade, mas com o lucro gerado pelo engagement. Para a combater, a informação não-corporativa precisa de algo que o corporativismo não pode replicar: transparência e confiança. É por isso que o Madeira Opina está a ganhar ao jornalismo que se manifesta com azia aos domingos. Os simples facto da matéria não ser mastigada pelos jornalistas mal visto cria uma "Confiança Visceral".
Se uma "empresa de comunicação" apresenta um título enganador, e há imensos na Madeira, o contraponto não deve ser um editorial, mas sim um vídeo/gráfico de 30 segundos que aponte diretamente para o título e o desconstrua com dados, de forma factual e até irónica.
É preciso vez de citar, mostrar. Por isso vejo os documentos anexos no Madeira Opina. Eles sabem o que fazem, continuem rigoroso com os autores. Apresentar a imagem do documento, o gráfico raw, o excerto do regulamento e necessário ao comentário factual, análise ou especulação é outra coisa, um exercício de explorar o inexplorado. A credibilidade, na era digital, é sinónima de prova visível e rastreável, não de mera autoridade. Deve ser por isso que as Empresas de Comunicação com suas narrativas pagas pelo partido odeiam o Madeira Opina!
A contra-informação precisa de humanidade. Autores, especialistas e jornalistas independentes devem interagir diretamente, responder a comentários e humanizar o processo, quebrando a perceção de que a informação é sempre gerada por uma máquina fria e distante. A "humanização" da informação é importante contra as empresas usam inteligência artificial e bots.
O objetivo de informar, para prevenir "erros do passado", é resgatar a capacidade de fazer a ligação entre a micro-informação do presente (o snack) e o grande quadro histórico. Que desafio eliminar o vício da novidade curta sem fim, é a luta a Curadoria, relembrar os erros do passado. Em cada peça de informação rápida (vídeo/infográfico), é crucial incluir um elemento que remeta para o passado. O "rasto" e as consequências! Por exemplo, em vez de apenas dizer que a nova lei favorece as empresas X, usar um título visual como "Lembram-se da crise de 2008? Esta decisão é a nova semente desse erro." Os matreiros renovam-se, não se esqueçam... ó ó 50 anos. A informação deve vir com um contexto de risco imediatamente percetível, ligando a ação corporativa atual às suas consequências históricas previsíveis.
Perante a saturação da comunicação social generalista, os espaços de informação de nicho e os grupos fechados (com moderação forte) onde as pessoas confiam nos curadores e interagem de forma mais atenta tornam-se cruciais. A moderação é necessária e não é censura, é evitar a instrumentalização do "inimigo". É aí que o texto mais longo e a análise aprofundada podem sobreviver e influenciar os "curadores" que depois traduzirão a mensagem para os formatos curtos, é a importância do nicho e da comunidade que depois vai crescendo às camadas...
Informar nesta era não significa obrigar as pessoas a voltarem a ler, como anda a fazer o Chega com São Vicente, desculpem a franqueza, isso é martelar e cansa; significa respeitar a forma como o cérebro consome informação no telemóvel, enquanto se injeta a dose necessária de contexto crítico e confiança humana para que as pessoas não repitam, por inação ou desinformação, os erros do passado.
A batalha da informação é, hoje, uma batalha de design e de intenção. Não aos tablets nas escolas!
Plataforma, prossigam o bom trabalho, eu percebo o que fazem.
