Falta de medicamentos e falta de carreira.


A melhor profissão na Saúde é "tarefeiro", ninguém olha para os profissionais de quadro e carreira.

N a farmácia do hospital, o tempo parece não passar. Há quem esteja há mais de vinte anos sem ver um único sinal de progressão na carreira. O mérito, afinal, é um conceito tão abstrato que dificilmente encontra lugar ali. A chefia, por sua vez, mostra-se indiferente: mais vale fechar os olhos do que mexer no círculo de conforto que tanto a favorece.

A organização do serviço é um espetáculo de improviso. Quando as coisas falham, a culpa é sempre dos mesmos e não há problema: resolve-se com horas extraordinárias, sempre entregues ao mesmo grupo restrito de “prediletos”. Assim, a desorganização transforma-se numa fonte segura de rendimento para alguns — e numa frustração silenciosa para todos os outros.

As avaliações anuais são outro momento de ouro. Já nem se trata de avaliar; é mais um ritual mecânico onde os mesmos nomes recebem o consagrado “muito bom”. Uma tradição tão previsível que quase poderia ser automatizada: copiar, colar e carimbar.

E não fiquemos por aqui. Quando surgem convites para formações ou congressos, a escolha é fácil: ou vão sempre os mesmos, ou então não vai ninguém. Afinal, investir no crescimento de todos seria demasiado ousado.

No meio disto tudo, ainda se ouve falar em “serviço regional futurista”. É uma ideia bonita, sem dúvida. Mas como se pode sonhar com futuro quando as chefias continuam agarradas a práticas de outro século? Quando continuam agarradas ao poder com práticas de violência psicológica alimentando o medo?! Enquanto os benefícios baterem sempre à mesma porta e o silêncio for imposto pela intimidação, o futuro continuará a ser apenas um slogan vazio.