O perigo do voto em branco numa ilha corrupta


O voto em branco pode parecer um gesto de protesto, uma forma de dizer “nenhum deles me representa”. Mas numa terra onde a corrupção já se entranhou nas paredes das câmaras e nas promessas dos candidatos, esse voto “neutro” é tudo menos inocente. Porque, na prática, o voto em branco acaba por ajudar quem já está no poder, aqueles que dominam o sistema e sabem exatamente como tirar proveito da apatia dos outros.

Numa ilha onde tudo e todos parecem ter uma cor partidária, o voto em branco é um presente embrulhado em fita dourada para os mesmos de sempre. Eles agradecem o teu silêncio, e continuam a mandar.

E há ainda um perigo mais grave, do qual poucos falam: o voto em branco é vulnerável. Quando uma folha fica em branco, basta um pequeno “ajuste” para que alguém, longe dos olhares do eleitor, assinale uma cruz onde mais lhe convém. E pronto, o teu voto de protesto transforma-se, silenciosamente, num voto útil… para quem mais precisava dele.

Nas eleições autárquicas, onde o controlo é mais local e discreto, as manobras de bastidores são ainda mais fáceis. Falamos de listas “ajustadas”, contagens pouco claras, transportes de votos “mal explicados” e mesas de voto onde, por coincidência, ninguém fiscaliza quem devia. Basta um punhado de descuidos, um envelope a mais, uma ata mal assinada, e a vontade popular é transformada num truque administrativo.

Por isso, votar em branco, numa ilha onde os amigos contam mais do que os valores, é o mesmo que entregar a chave da tua casa a quem já te enganou antes. A diferença é que, desta vez, estás a sorrir enquanto o fazes.

E aqui fica um alerta à Comissão Nacional de Eleições (CNE): é urgente reforçar a vigilância e a transparência nos processos eleitorais locais. O povo precisa de confiar que o seu voto, seja ele qual for, é respeitado e contado com honestidade. Onde há opacidade, há espaço para manipulação. E onde há silêncio institucional, cresce a desconfiança que corrói a democracia.