Q uero expressar o meu apreço a todos os comediantes da Madeira, que demonstram coragem e ousadia ao dedicarem-se à arte de fazer rir. Ser humorista nunca foi tarefa fácil, e é particularmente desafiante quando o humor se entrelaça com a crítica. A piada crítica é, por natureza, um exercício arriscado: por mais equilibrada ou inteligente que seja, corre sempre o risco de ferir suscetibilidades ou ser mal interpretada, mesmo quando não existe intenção de atingir ninguém em particular.
A comédia crítica é, no entanto, uma das formas mais nobres e exigentes de liberdade de expressão. Requer não só talento e sensibilidade, mas também consciência social e responsabilidade. O comediante, ao abordar temas delicados, transforma a riso o que, de outro modo, poderia gerar conflito; e ao fazê-lo, convida à reflexão. A crítica humorística é, por isso, um ato cívico, uma forma de diálogo que, em vez de impor ideias, as questiona.
Num tempo em que a sociedade se torna cada vez mais intolerante à discordância, e onde a sátira é muitas vezes confundida com ofensa, é vital reconhecer o papel do humor como ferramenta de convivência democrática. A ironia, o sarcasmo e a caricatura são instrumentos antigos da inteligência humana, meios legítimos de observar o poder, os costumes e as contradições da vida pública. Silenciar a piada é empobrecer o debate.
Por isso, é justo reconhecer o mérito de quem, através da comédia, mantém viva a liberdade de pensar e de dizer. E é igualmente justo elogiar espaços que permitam essa expressão. O Madeira Opina, tem dado o exemplo ao acolher vozes diversas e ao preservar o direito à crítica humorística. Num panorama mediático muitas vezes dominado pelo medo da polémica, este compromisso com a liberdade é um sinal de maturidade cívica.
A comédia, quando exercida com inteligência e sentido ético, não divide, esclarece. É o espelho que reflete, com graça e acidez, as virtudes e os vícios de uma comunidade. E, sobretudo, é um lembrete de que a democracia também se mede pela capacidade de rir de si própria.
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