D izem que a riqueza está mal distribuída, mas isso é claramente falso, basta visitar um concelho PPD/PSD. Ali, a abundância é tão natural que parece brotar das rotundas. É o milagre económico à portuguesa: um país inteiro a trabalhar para que viva meia dúzia em modo resort.
É bom saber que, nos concelhos do PPD/PSD, todos são milionários! Aparentemente, a pobreza foi abolida por decreto municipal e substituída pela espetada diária. Há poder de compra para ir duas vezes por mês a Lisboa comprar pão artesanal, de fermentação lenta, claro, porque a pressa é socialista. São os novos Alpes lusitanos: a Suíça portuguesa, mas com mais sol, menos impostos e humildade zero.
É comovente assistir ao milagre económico dos concelhos PPD/PSD: cada habitante é um caso de sucesso invisível. O passatempo local é o consumo conspícuo, um conceito que o próprio Aristóteles aprovaria, se tivesse vivido o suficiente para provar o caviar beluguense do bar da esquina. A espetada é apenas o amuse-bouche do jato privado; o pão de Lisboa, o sacramento semanal da abundância.
O PPD/PSD criou, finalmente, a Aristocracia do Poder de Compra Absoluto: cidadãos tão ricos que ir à capital duas vezes por mês é considerado apenas uma ida rápida ao supermercado. A classe média foi substituída pela classe mediática: todos aparecem, ninguém trabalha.
E, no entanto, há queixas! Há quem diga que a vida nos concelhos PPD/PSD é difícil. Difícil? Querem o quê? Uma viagem à Lua com paragem em Marte e brunch no regresso? Já têm lagosta ao almoço e caviar ao jantar! A reivindicação seguinte será, por certo, o passe intergaláctico, ilimitado e comparticipado, claro.
Não se compreende a insatisfação cósmica: se o PPD/PSD governa, a vida é um spa fiscal. A queixa, suspeito, é apenas um novo passatempo de rico, uma espécie de mindfulness político. "Reclamarei, logo existo."
De qualquer forma, decidi mudar-me já para um concelho PPD/PSD. Pelo menos terei direito a lagosta diária, iate de cortesia e helicóptero municipal para evitar o trânsito das 17h. A humildade é importante, mas o conforto é uma prioridade. O seu assistencialismo é gastronómico: cada voto é acompanhado por um amuse-bouche de luxo.
Por isso, declaro o meu novo lema: “Voto na Lagosta!”
Afinal, se é para acreditar em milagres económicos, que sejam servidos com manteiga derretida e champanhe regional.
Nos concelhos PPD/PSD, a política é um banquete e a democracia um menu de degustação. Entre o luxo imaginário e a ostentação moral, reina a verdadeira riqueza nacional: o humor involuntário dos que confundem privilégio com mérito e lagosta com liberdade.
