O preço da ruína


Na sequência deste texto: "Quando o lucro substitui o ser humano". (link)

O que é a Justiça? É a forma Ideal de uma ordem social onde a lei e a economia promovem a virtude e o bem-estar do todo, ou é a mera liberdade de extorquir o cidadão? A evidência empírica americana resolve este dilema: o capitalismo selvagem, sem Estado-Providência (Estado Social), é uma tragédia em que o lucro substitui a dignidade.

Observemos o facto: nos EUA, o cidadão vive acorrentado à dívida. A saúde não é um direito, mas um luxo caríssimo. Um seguro familiar anual atinge facilmente os $20.000. Uma simples chamada de ambulância custa entre $400 a $2.500. Uma ida ao hospital pode ultrapassar os $10.000. Milhões trabalham apenas para pagar o seguro, ou vivem no terror de adoecer. A consequência lógica é uma das maiores desigualdades do mundo desenvolvido.

Questionemos: É este o futuro da Madeira que a nossa direita, os neoliberais e a extrema-direita nos prometem?

A retórica da direita regional, do PSD de Miguel Albuquerque à Iniciativa Liberal (IL) e ao CHEGA, ecoa perigosamente a doutrina que criou este abismo social: menos impostos para as elites, menos Estado, menos regulação.

O PSD/Governo Regional, com as suas políticas que historicamente beneficiam grupos económicos e mantêm uma casta elitista, flerta com a erosão do bem-estar em nome de um regionalismo populista e opaco. O foco não está na redistribuição, mas na manutenção de privilégios.

A IL, ao demonizar a fiscalidade e o Estado Social, vende a ilusão de que o mercado resolverá tudo. É a negação da coerência lógica: menos impostos significa, necessariamente, menos verbas para o nosso Serviço de Saúde (SESARAM) e para a escola pública. O que propõem é transferir o custo dos serviços essenciais para a carteira do povo, à moda americana.

O CHEGA usa a demagogia para canalizar a raiva contra o Estado que, ironicamente, ainda protege os mais vulneráveis. A sua agenda anti-social é o passo final para a insegurança laboral e o desamparo total.

Esta agenda conjunta é um convite à ruína. É exigir que o madeirense comece a pagar o impagável: o acesso à saúde e a uma educação de qualidade para os seus filhos. A nossa sociedade tem um arranjo harmonioso garantido pelo Estado Social. O dinheiro dos impostos (IRS, IRC, IVA) financia o essencial: saúde, educação, pensões e RSI. É a matemática da coesão.

É imperativo que a nossa perceção não seja desviada pelas sereias do populismo e do ultra-liberalismo. Perder o Estado Social em troca de uma vaga "liberdade" é trocar a segurança individual pela insegurança crónica.

Devemos agir em conformidade com a natureza da nossa República democrática, mantendo-nos fiéis ao pilar da justiça social. Rejeitar o modelo americano não é uma mera opção política; é um ato de autodefesa civilizacional.

A Madeira não precisa de privatizar a miséria. Precisa, sim, de fortalecer o que nos salva do pesadelo do endividamento: o nosso Estado Social. Não permitiremos que o nosso povo fique algemado ao sistema de extorsão que arruína milhões nos EUA.