Portugal não é seita.


H á quem confunda partido com seita. Há quem chame à mentira convicção, à manipulação carisma e à vergonha patriotismo. O Chega é o espelho dessa degeneração moral: um culto de ódio disfarçado de alternativa. E o mais grave é que se apresenta como “voz do povo”, quando na verdade é o eco da barbárie.

Os factos falam mais alto do que os slogans. Um ex-candidato detido por atos sexuais com menores. Outro acusado de atear fogos. Um deputado apanhado a conduzir embriagado. Um outro a declarar morada falsa para receber subsídios. Há quem roube gasóleo das ambulâncias, quem burle igrejas, quem agrida árbitros, quem agrida mulheres, quem viva de dívidas e desculpas. Há quem prometa “limpar Portugal” enquanto nada limpa, nem de si mesmo.

Eis o retrato da moralidade que se quer impor à República, um moralismo de sarjeta, uma justiça de punho cerrado e boca suja, pregada por gente sem espelho nem vergonha. O partido da “ordem” é composto por desordeiros; o partido da “honestidade” por condenados; o partido da “família” por proxenetas e agressores. Não é política, é teatro de sombras onde os hipócritas se aplaudem mutuamente.

Mas o problema é mais profundo, é cultural, é ético, é social. É o vazio que cresce quando a ignorância se confunde com coragem e o ressentimento com verdade. É o triunfo do barulho sobre a razão. A cada mentira repetida, o país afunda um pouco mais na lama do populismo. A cada voto de raiva, morre um pouco da decência coletiva.

Portugal não precisa de salvadores de feira nem de justiceiros de televisão. Precisa de cidadãos com memória, dignidade e coragem moral. A liberdade não é um grito, é uma responsabilidade. E a democracia não se defende com ódio, mas com lucidez.

O verdadeiro patriotismo não veste bandeiras, cumpre deveres. Não se alimenta do medo, constrói confiança. Não divide, une. E o povo português, que já enfrentou ditaduras e farsas, não deve permitir que o futuro seja sequestrado por uma seita de malfeitores mascarados de moralistas.

Limpar Portugal, sim. Mas começando pela política suja do ódio, pela mentira institucionalizada e pela corrupção moral de quem se proclama puro. Porque o país que se respeita, primeiro, varre a própria casa.