Campos de Golfe estratégicos?! O desfasamento das prioridades: luxo vs. dignidade. ⭐️


E sta notícia, no contexto socioeconómico da Madeira, soa a um anacronismo gritante e a uma profunda desconexão com a realidade vivida pela população. O Governo Regional não governa para os madeirenses, não é preciso chegar ao Orçamento da Região, basta ver a aplicação do PRR, as estruturas essenciais e os madeirenses não foram contemplados, aliás, decidiram-se pelo turismo massivo e o Eduardo Jesus vem para aí com papelinhos para reeducar os turistas, mas investimento sério em ETARS e Meia Serra não se vê... só campos de golfe?

Investir dinheiro público, impostos dos contribuintes, em cinco campos de golfe, uma infraestrutura de elite, ambientalmente voraz e socialmente exclusiva, substituíndo-se ao privado na despesa para depois lhe entregar "trigo limpo" é de bradar aos céus! Enquanto isso, a ilha enfrenta crises severas na habitação e no custo de vida, é mais do que uma escolha política, é uma afronta! A lata e impunidade chegou ao total!

O governo justifica o investimento com a "estratégia" e o "turismo de qualidade" depois da barraca de termos pontapeado o turismo de qualidade em favor do massivo rasca. O que vemos é a socialização dos custos e a privatização dos benefícios! Eu tenho que dizer isto agora quem é comuna e socialista nas teorias "miras"?

Enquanto se planeiam mais campo de golfe e  "mais 9 buracos" no Porto Santo, os jovens madeirenses não conseguem arrendar casa no Funchal ou noutros concelhos devido à inflação imobiliária. O setor social e a saúde na Região Autónoma debatem-se com listas de espera e falta de recursos. Há falta de lares. Priorizar o golfe em vez de reforçar o apoio às famílias mais vulneráveis demonstra desvario governativo, uma bússola sem norte na ética. E com toda a lata dizem ser estratégico. Se rebenta uma guerra em que vamos usar os campos de golfe? Para vacas pastarem?

E voltamos ao mesmo, numa ilha onde a gestão da água é um tema crítico e as alterações climáticas ameaçam o regime de chuvas, manter cinco campos de golfe é um delírio ecológico! Da esquerda à direita todos dizem, menos os apaniguados do regime e os que esfregam as mãos pelo Governo investir por eles, o que lhes saca custos e abre caminho a grandes negócios de lucros sempre a crescer. O pobre financia os ricos!

Um campo de golfe consome quantidades astronómicas de água e fertilizantes para manter um relvado que serve a uma minoria absoluta. Vale mais do que remédios sempre em falta (por falta de pagamento atempado na maioria das vezes). Numa era em que a sustentabilidade devia ser a palavra de ordem, investir em "indústrias" que esgotam recursos naturais locais para satisfazer turistas de luxo é hipotecar o futuro da Região. Isto para mim é a versão regional de Donald Trump a dizer para construírem carros menos eficientes para consumirem combustível! Também temos Trumps por cá.

Criaram o mito do "Setor Estratégico", a malta que come gelados com a testa embevece. A narrativa de que o golfe cria "valor estrutural" é uma falácia económica para justificar o gasto público. O emprego criado por campos de golfe é, frequentemente, precário e sazonal (manutenção e serviços). Não fixa população qualificada, apenas serve de "jardineiro" para o capital estrangeiro. O lucro deste "turismo de elevada qualidade" raramente chega à economia real das freguesias como a Ponta do Pargo ou o Faial. Fica retido nas grandes cadeias hoteleiras e nos operadores de luxo. Esses lugares ficam com os coitadinhos dos nativos do lado de fora do muro.

Afirmar que isto representa "apenas" 5% do orçamento de investimento da secretaria é um exercício de cinismo estatístico. É imenso! 5% de um orçamento regional são milhões de euros que poderiam ser canalizados para infraestruturas de saneamento básico, melhoria de acessos para as populações locais ou apoio direto à produção agrícola, que é a verdadeira identidade daquelas zonas. Construir um campo de golfe no Faial, uma zona que precisa desesperadamente de revitalização social e económica centrada nas pessoas, parece uma tentativa de transformar a ilha num "resort" gigante, onde os locais são apenas figurantes. Falavam do Funchal? Meus senhores, este governo está a criar o Resort Madeira!

Este orçamento para 2026 parece ignorar que a Madeira não é apenas um cartaz turístico, é uma comunidade de pessoas com dificuldades reais. Investir em relvados de luxo quando o povo luta para pagar o supermercado, o empréstimo e a renda é uma prova de cegueira política. É o regresso a um modelo de desenvolvimento betoneiro e elitista que já provou, no passado, deixar para trás dívidas astronómicas e pouca justiça social! Vamos ter a par do gasto irresponsável do PRR mais um superavit das dívidas. Os campos não serão rentáveis, vão competir entre si e a despesa para não sujar a cara do governante fica de novo para o contribuinte. Mas nessa altura, os ricos ficarão mais ricos a betonar tudo com mais "aldeias" de milhões para as imobiliárias. Governante imobiliários parece o louco da América.