Deixem o dinheiro seguro e algum convosco.



Olá plataforma e leitores

V enho falar de três esferas distintas, mas que no fim vão se conjugar, a dinâmica volátil do mercado de criptoativos, a política de desenvolvimento económico regional (Madeira) e a política financeira europeia. Risco na incerteza geopolítica.

Ouvi na TV esta frase: "quando a cotação do Bitcoin desce é sinal que os investidores estão a fugir do risco." Uma visão simplificada, mas amplamente aceite, sobre o papel do Bitcoin no sentimento de mercado, é visto predominantemente como um ativo de risco (ou ativo especulativo). Quando a indefinição toma conta dos investidores, este refugiam-se no ouro ou outros metais preciosos, e é aqui que toda a narrativa em seu favor cai redondamente. O BTC não tem um valor intrínseco garantido (como um título de dívida soberana ou um ativo lastreado) e é conhecido pelas suas oscilações extremas de preço.

Em momentos de crise geopolítica, incerteza económica ou subida das taxas de juro (que tornam os juros fixos mais atrativos), os grandes investidores tendem a sair de ativos de maior risco (como ações tecnológicas ou criptomoedas) e a colocar o dinheiro em ativos tradicionalmente considerados mais seguros, como o ouro ou o dólar americano (especialmente Treasuries dos EUA).

A queda na cotação do Bitcoin, juntamente com quedas nos mercados acionistas, é, portanto, frequentemente interpretada como um termómetro do aumento da aversão ao risco no sentimento dos investidores globais. É preciso saber a verdade na hora da verdade.

A frase ignora a narrativa original do Bitcoin como "ouro digital" ou ativo de reserva de valor não relacionado dos mercados tradicionais. Para alguns puristas, o BTC deveria subir em momentos de crise, atuando como um porto seguro contra a inflação e a impressão de moeda pelos bancos centrais. No entanto, a sua crescente correlação com o mercado de ações (especialmente o setor tecnológico) tem reforçado a perceção de que é, de momento, um ativo de risco.

O Presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, tem manifestado um claro desejo de posicionar a Região como um hub tecnológico e de Bitcoin (ou coin digital), chegando a anunciar a criação de um Centro de Negócios Bitcoin na Madeira e a contratar serviços para a "implementação de moeda eletrónica". Tem caído fora do ruído, mas prossegue.

Ao acolher e promover o Bitcoin, o Governo Regional aposta em atrair empresas e capital associados a um setor altamente volátil e especulativo. É uma estratégia de alto risco/alta recompensa, procurando diversificar a economia para lá do turismo e dos serviços. Teoricamente, porque perder o rasto é algo que interessa a Miguel Albuquerque para alguns negócios que acontecem nesta terra e que volta e meia nos impressionam, como a do russo a lavar dinheiro na Madeira (link 1, link 2).

Se a cotação do Bitcoin desce drasticamente (como sinal de fuga ao risco), o capital e a estabilidade das empresas que Albuquerque pretende atrair ficam imediatamente sob pressão, podendo comprometer o sucesso do hub tecnológico. O desafio político de Albuquerque é vender a ideia de inovação e futuro digital (o "sonho" da coin digital) ao mesmo tempo que gere a instabilidade económica real que acompanha o ativo que escolheu promover.

Passemos à Maria Luís Albuquerque, a ex-Ministra das Finanças e Comissária Europeia, tem defendido ativamente a necessidade de os europeus arriscarem mais o seu dinheiro (retirando-o dos depósitos bancários, que perdem valor com a inflação) para o aplicar em produtos financeiros mais atrativos e, consequentemente, mais arriscados, promovendo a União de Poupança e Investimento. No contexto da Guerra Híbrida isto é de loucos, como pedir aos cidadãos comuns que arrisquem as suas poupanças em investimentos voláteis quando a Europa está num contexto de "guerra híbrida" e incerteza geopolítica?

A guerra híbrida, conduzida pela Rússia, não se limita a ataques militares, mas inclui desinformação, ataques cibernéticos a infraestruturas críticas e a desestabilização política e social. O seu objetivo final é criar caos e incerteza, os piores inimigos da estabilidade económica e da confiança do investidor. Para cúmulo, a Madeira anda a lavar dinheiro conseguido nos minérios ucranianos do Donbass.

A guerra híbrida exacerba a aversão natural ao risco do cidadão europeu (que já tem uma cultura de poupança conservadora). Perante a incerteza de um conflito que pode escalar ou perturbar a economia, a tendência é exatamente a oposta à desejada por Maria Luís Albuquerque: fugir do risco e guardar o dinheiro em depósitos bancários, mesmo que estes percam valor real. Não estará Maria Luís Albuquerque a trabalhar para os "seus" bancos? E o nosso Albuquerque trabalha para quem?

A justificação de Maria Luís Albuquerque para esta estratégia é que o capital europeu precisa de ser mobilizado para financiar a economia, incluindo setores críticos como a defesa e a segurança coletiva. A sua proposta é, portanto, uma tentativa de conciliar a necessidade de defesa da UE (resposta à guerra híbrida) com a urgência económica (rentabilizar as poupanças estagnadas), mesmo que isso implique um maior risco individual num período de incerteza coletiva. Eu acho que ela quer "sacar" de livre vontade o dinheiro europeu para uma esfera onde os seus amigos podem atuar... com o dinheiro dos outros.

Existe uma clara dicotomia entre a necessidade de risco para o crescimento (e defesa) e a aversão ao risco imposta pela incerteza geopolítica: Riscos geopolíticos preocupam setor dos seguros e fundos de pensões (link)

O mercado global ("quando a cotação do Bitcoin desce é sinal que os investidores estão a fugir do risco") indica que, quando o risco aumenta, os investidores fogem de ativos como o Bitcoin. Miguel Albuquerque convida ao risco ao apostar no Bitcoin para o desenvolvimento regional. Maria Luís Albuquerque insiste que os cidadãos europeus devem abraçar o risco para fortalecer o sistema financeiro e a economia da UE, num momento em que a guerra híbrida na Europa torna o risco mais real e a aversão mais justificada.

Eu acho que esta gente prepara terreno e não é a favor do cidadão, é para compensar as perdas... de ler:

O meu texto é para terem cuidado com estes políticos que têm o seu garantido, não se esqueçam do caso Banif e do caso BES.