E u faço esta pergunta todos os dias. Eu vivo só com o meu pai. Ele recebe uma reforma de 600 euros por mês. Nós dois vivemos só com este dinheiro. Somos parte dos 2,1 milhões de pessoas em Portugal que estão em risco de pobreza ou exclusão social. Esta é a nossa vida. Não é escolha. É o que temos.
Na minha zona, a Casa do Povo ajuda pessoas que, na minha opinião, não precisam tanto. Vejo idosos com reformas acima de 1.000 euros a receber cabazes, passeios, atenções. E eu e o meu pai? Nada. Muitas vezes sinto que até gozam connosco. Parece que não existimos.
A Segurança Social também não nos vê. Pelo menos é o que sinto. Há pessoas aqui que recebem apoios maiores do que nós. Recebem comida, apoio em casa, ajudas várias. E eu pergunto: o sistema não vê que vivemos só com 600 euros? O registo electrónico não mostra isso? Porque é que não recebemos nada?
E depois vem o Centro de Emprego da Madeira. Eu estive inscrita para trabalhar como costureira. Sempre recebi ofertas para trabalhar em restaurantes. Sempre. Como se eu fosse obrigada a aceitar o que eles querem. Eu queria costurar. Disse isso muitas vezes. Não adiantou. Mais tarde tentei abrir o meu próprio negócio, com apoio europeu. Rejeitaram. Três anos passaram e continuo aqui, presa, sem trabalho, sem apoio, a viver só com a reforma do meu pai.
Enquanto isso, alguns vizinhos têm ajudas que, na minha opinião, não precisam tanto. E nós, que precisamos mesmo, ficamos de lado. Ignorados. Marginalizados. Somos empurrados para a pobreza todos os dias. Parece que há uma fábrica de pobres na Madeira. Uma máquina que cria pobreza e deixa alguns lucrarem com ela. Eu não sei quem ganha com isto. Não sei quem lucra com a miséria dos outros. Mas sinto que alguém ganha. Porque nós, os pobres, não ganhamos nada.
Eu escrevo isto porque estou cansada. Porque já não acredito nas respostas bonitas dos serviços públicos. Porque quero que todos saibam que há pessoas que ficam de fora, mesmo quando precisam. Quero que todos os adultos da Madeira pensem: para que serve a Segurança Social? Para que servem as Casas do Povo? Para que serve o Centro de Emprego?
Eu não tenho respostas. Só tenho perguntas. E uma vida difícil que ninguém parece querer ver.
