O circo dos tachinhos


S ou militante do PPD-PSD Madeira há anos. Um daqueles que aparecem quando é preciso carregar caixas, montar palcos, colar cartazes, tapar buracos e sorrir para a fotografia. Sempre disse “sim”. Sempre ajudei. Sempre dei o corpo ao manifesto. E o que recebi em troca? Nada. Absolutamente nada. De vez em quando, uns cupões miseráveis, esmolas travestidas de gratidão, insuficientes para pagar o cansaço, quanto mais a dignidade.

Enquanto isso, os figurões do partido recebem ordenados respeitáveis, aparecem meia hora, debitam banalidades, comem à grande, apertam mãos e desaparecem até à próxima encenação. O guião repete-se. O espetáculo continua. E eu? Eu fico fora de cena. Esquecido. Exausto. Mal alimentado. Mal dormido. Sem um cheque, sem um obrigado, nem sequer uma lembrança no Natal. Trabalho gratuito para um partido rico em cargos e pobre em carácter.

Depois há os outros. As caras novas, bem penteadas, que passam à frente sem suar. Para esses há sempre um tacho, um “desenrasque”, um cargozinho oportuno. Para mim, nada. Outra vez nada. Sim, tachos. Não finjam escândalo. Ninguém entra na política por desporto. Quem diz que não espera um tacho mente descaradamente. Os que se dizem contra os tachos ou já estão sentados neles, ou têm dinheiro suficiente para fingir virtude. No fundo, todos esperam a sua vez à mesa. Isto não é exclusivo deste partido: é um vício transversal na Madeira e em Portugal. Negá-lo é insultar a inteligência de quem observa.

Ao fim de tantos anos, vejo novatos a ultrapassarem-me enquanto eu fico para trás, útil apenas para o trabalho voluntário que os assalariados do partido não querem fazer. O PPD-PSD Madeira tornou-se um manual prático de exploração laboral interna. Depois admiram-se da obsessão com reformas laborais que protegem sempre os mesmos. Os ricos sobem. Os pobres carregam. Até dentro do partido.

Acham que como gelados com a testa? Que vou continuar a trabalhar como escravo gratuito enquanto outros engordam salários e tachos? Acabou. O circo fica sem palhaço. Façam vocês o trabalho. Não são vocês que ganham ordenados e vivem dos tachinhos? Pois então, trabalhem. Eu saio de cena. O riso acabou.