Bananicultura II: o que querem os produtores.


O que nós, produtores de banana da Madeira (RAM), queremos é, em primeiro lugar, receber um valor justo, que tenha por referência o preço de venda ao público. 

P ara calcularmos o valor que nos parecesse justo, durante os anos de 2021 e 2022, fomos registando semanalmente os valores de venda da nossa banana na RAM – 2 cadeias de supermercados (Continente e Pingo Doce) e em Portugal continental – 3 cadeias de supermercados (Continente, Pingo Doce e Auchan). Retirámos o valor do IVA (6% no continente; 5% na RAM) quando existia, corrigimos a sazonalidade da nossa produção e calculámos o valor médio de venda no continente (85% das vendas); relatório de gestão, pág. 6/25; e na RAM (15% das vendas):

Quadro 1

De seguida, retirámos a margem das cadeias de distribuição, 40% para a RAM e 60% para o continente. A margem para a RAM foi calculada a partir da consulta de recibos de um produtor que vende parte da sua produção, diretamente a uma das superfícies comerciais, e o preço de venda ao público. Os 60% atribuídos para o continente foram assumidos, após contactos, como valor para um produto premium, com tradição e muita procura, que preenche apenas 10% das necessidades do mercado, que não ocupa prateleira nem local especial no supermercado, nem sofre concorrência dos chamados produtos de marca das cadeias de supermercados. Foi-nos dito que a margem do supermercado é inferior a 60% mas, ao contrário da banana dólar que chega em muito bom estado (aparência/consistência) e com um grau de maturação que permite um tempo de venda habitualmente superior a 1 semana, a banana da RAM tem de ser vendida rapidamente, tem muitas perdas, o que afeta substancialmente o montante a ser pago; noutro texto explicarei como se corrige isto. Registe-se que uma margem de 60% corresponde a cerca de 1 €/Kg. Retirámos 0,55 €/Kg para o que deveriam ser os custos de funcionamento da GesBa (no passado já foram menos), tendo também por referência Canárias (Fig. 1).

Fig. 1. Estrutura custos e preços em Canárias; manipulação e expedição: 0,35 – 0,50€/Kg.

Outra referência indiscutível é a chamada banana dólar, que se vende ao público a 1,2 €/Kg (fig. 1). Com este valor, pagam a aquisição do terreno, a sua preparação para a plantação, a compra das plantas, a plantação, tudo o que envolve a produção, manipulação e expedição, transporte a partir da Colômbia, Costa Rica e Equador; colocam a sua banana nas prateleiras dos supermercados em Portugal, com muito melhor apresentação/conservação e ainda ganham dinheiro. A nossa vende-se a um valor médio anual de 2,65 €/Kg (fig. 2) e os produtores recebem um valor médio a rondar o 0,38 €/Kg!

Banana Dólar:

Banana da Madeira:

E, se dúvidas houvesse, em 2006, quando o valor de venda no continente variava entre 0,8 €/Kg e 1,35 €/Kg, as cooperativas pagavam, sem contar com subsídios, 0,60 €/Kg pela banana extra, 0,51 €/Kg pela de 1ª e 0,30 €/Kg pela de 2ª (fig. 4)! 

Figura 4

Em 2021, o valor médio de venda ao público no continente foi de 2,64 €/Kg; nesse ano, a GesBa recebeu 0,936 €/Kg (pág. 4/18):

O que perfaz uma diferença de 1,70 €/Kg! Em 2022, já sob pressão de um grupo de produtores que começaram a reunir-se na Madalena do Mar, o valor médio de venda subiu para 1,20€/Kg, reduzindo a diferença para 1,44 €/Kg, mesmo assim, 3 vezes mais do que o recebido pelos produtores!

Leia o primeiro desta série de abordagens ao diferendo da banana entre produtores e cooperativa:

Relatório de Gestão da GesBa 13 de março de 2023 (ano de 2022) PDF1


Relatório de Gestão da GesBa 11 de março de 2022 (ano de 2021) PDF2:


Enviado por Denúncia Anónima
Domingo, 17 de Dezembro de 2023
Todos os elementos enviados pelo autor.

Adere à nossa Página do Facebook (onde cai as publicações do site)
Adere ao nosso grupo do Facebook: Ocorrências CM
Segue o site do Correio da Madeira

Enviar um comentário

0 Comentários