O Leilão


A sala estava cheia. Sentados, os interessados esperavam ansiosos. Era o primeiro leilão de muitos que vão acontecer nesta legislatura. Alguns intermediários estavam num frenesim ao telefone com os seus clientes anónimos e não era para menos. Entre uma pintura de Van Gogh, uma mesinha de cabeceira de Luís XIV e alguns pechisbeques estava uma peça renascentista que motivava o interesse da maioria dos interessados.

Depois do quadro de “A noite estrelada” de Van Gogh ter sido leiloado por 100 milhões de euros, era vez da peça mais rara e mais cara ir a leilão. Depois de algum ruído, o Leiloeiro da Christie's anunciou a peça mais rara do leilão a um preço base de “Presidente da Assembleia Regional”. Um dos interessados levantou a placa e ofereceu “um cargo de Presidente da Assembleia e uma Secretaria Regional”.

O Leiloeiro entusiasmado gritou “um cargo de Presidente da Assembleia e uma Secretaria Regional, quem dá mais?”.

Depois de algum silêncio, outro interessado levantou a placa e ofereceu “um cargo de Presidente da Assembleia e duas Secretarias Regionais!”, que foi logo superado por outro interessado que licitou “um cargo de Presidente da Assembleia, duas Secretarias Regionais e duzentos e trinta tachos!”.

Instalou-se logo um burburinho porque a peça valia na realidade apenas 5000 votos, ou seja tinha tantos votos como sócios do Clube Desportivo Nacional e estava mais inflacionada do que o bitcoin.

Para restabelecer a ordem, o Leiloeiro bateu com o martelo diversas vezes pedindo silêncio e anunciou “temos um cargo de Presidente da Assembleia, duas Secretarias Regionais e duzentos e trinta tachos!”, quem dá mais?

Um longo silêncio instalou-se na sala com os interessados a olhar uns para os outros. O leiloeiro então continuou “… e vão duas… e vão…”

De repente um interessado no fim da sala levantou a placa e gritou ““um cargo de Presidente da Assembleia, duas Secretarias Regionais, duzentos e trinta tachos e um sabonete!”.

Entusiasmado, o leiloeiro bateu com o martelo e exclamou “e vão três!... Vendido ao senhor arguido da imunidade!”

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