A (muito ténue) linha que separa Cafôfo e Vieira

 

A peteceu-me comentar o convite que João Pedro Vieira endereçou hoje a Paulo Cafôfo para se demitir permanentemente da política. Há quem queira ser gente antes de nascer. Há quem considere que abanar bandeiras é currículo para um cargo público. Há quem seja insuportável, mas faça amigos por conveniência. João Pedro Vieira é tudo isto e mais algumas coisas. Depois de ter sido lançado pelo próprio Paulo Cafôfo para a Câmara do Funchal como o “vereador da juventude”, incompatibilizou-se, desviou-se do caminho e acabou sem funções. Mas quando olhamos para o caminho de cada um, é impossível não notar as semelhanças. 

Cafôfo tornou-se presidente da Câmara Municipal do Funchal em 2013, posição que abandonou em 2019 para tentar a Quinta Vigia. Falhado o alvo, largou tudo para abraçar a Secretaria de Estado das Comunidades. Quando já corria pelos corredores que a exoneração estaria para breve, agarrou-se à presidência do PS-M como uma lapa agarra a rocha e não há maneira de a largar, apesar da derrota infligida nas Regionais. Aqui tenho de concordar com Vieira quando diz que Cafôfo não tem hipóteses de ganhar eleições, mas enquanto não houver outra alternativa, com parlamentos tão frágeis e a poderem cair a qualquer momento, dá jeito ser o eterno candidato.

Já João Pedro Vieira juntou-se a Cafôfo como vereador no Funchal pouco mais de um ano depois de ter saído da universidade, a que juntou ser o número 2 de Emanuel Câmara quando este se torna presidente do PS colocado por Cafôfo. Aqui, usou a sua influência para colocar vários amigos, do Porto Moniz a Machico, em tudo o que eram listas do partido. Quase metade dessa foto estava nas listas  para as Regionais em 2019 e sentaram-se na Assembleia Regional. Para Olavo Câmara ficou a lista mais restrita da República. Quando Vieira saiu desses cargos – ou foi empurrado para a saída, as versões confundem-se – encontrou na Secretaria de Estado um poiso como adjunto do Secretário. Seguiram-se sete meses em Bruxelas, cortesia de uma eurodeputada que ele próprio indicou quando era secretário-geral do PS-Madeira. Curioso que ainda ontem se falou de nomeações para Bruxelas e de Cafôfo, mas o gabinete desta deputada era uma coleção de amigos de João Pedro Vieira. Olhemos para a foto: A namorada de Olavo Câmara, o ombro direito de Olavo Câmara, a amiga de São Vicente e o próprio Vieira. Entre outros que foram e regressaram, mas torna-se difícil me lembrar de todos. Verdadeiros cargos de confiança. Mas voltemos ao currículo. De Bruxelas novamente para Lisboa, no mesmo voo de Manuel Pizarro que António Costa tinha nomeado para Ministro da Saúde.

Cafôfo e Vieira têm muito mais em comum do que pensam. A maior diferença residirá talvez no estatuto que querem atingir: Cafôfo não admite ser número 2 de ninguém. Vieira quer à força que as portas do partido e da Madeira se abram para Miguel Silva Gouveia, de quem dizia cobras e lagartos quando coincidiram na Câmara do Funchal. Isto é, até começar a namorar com a irmã de Gouveia que acabou nomeada para sua assessora. Malditas ligações de confiança.

Fica a impressão de que, neste jogo de fações existentes no PS, não há telhado que se safe em chuva de pedras. A linha é ténue, muito ténue. A Madeira precisa de uma oposição muito melhor do que esta que se atropela por cargos políticos, e não são muitos os candidatos que se perfilam para tal. Talvez falte então uma candidata.


Nota do CM: o primeiro pequeno parágrafo veio com gralha e não entendemos o que queria transmitir, como era uma descrição retiramos. Se o tiver sem a gralha, envie que adicionamos.

Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira
, 7 de Novembro de 2024
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