U ma das maiores falhas da hotelaria madeirense é a falta de rotatividade nas grelhas de programação. Há anos que estas grelhas não mudam. E quando mudam, é apenas uma troca entre os mesmos artistas – um vai para trás, outro vai para a frente. A situação é alarmante e continua a acontecer sem que ninguém se pronuncie de forma verdadeira sobre o que se passa nos bastidores.
Esta semana, por exemplo, num hotel muito conhecido, do Grupo Trindade, o Porto Mare, observei uma realidade que é reflexo de um padrão que se repete em muitos outros hotéis. Duas caras repetem-se quatro vezes por semana na grelha de programação. Ou seja, há semanas que em sete dias, essas duas figuras ocupam quatro espaços. O resto da semana? O resto são apenas os outros dias para "dividir o mal pelas aldeias". Como podemos considerar isto uma distribuição justa e equilibrada? Não é justo que os mesmos artistas ocupem tantas vezes os mesmos espaços, enquanto outros são praticamente ignorados. O que está em questão não é uma crítica pessoal, mas uma constatação de um facto evidente. Eu sou uma pessoa que frequenta os hotéis há muitas décadas, que observa de perto como as coisas funcionam, e não se trata de maldade ou qualquer tipo de animosidade. É uma realidade que se impõe diante de quem está por dentro da área, como eu, que vê todos os dias essa dinâmica a acontecer.
O problema é que esses artistas, longe de trazerem algo novo para o cenário artístico da Madeira, limitam-se a apresentar covers dos covers, repetindo-se de forma incansável, sem inovar ou introduzir novas linhas artísticas. É o mesmo de sempre, sem frescor nem originalidade. Eles acabam por criar projetos apenas para encher "alheiras", e é evidente que alguns desses projetos são favorecidos em detrimento de outros.
Um caso particularmente notável é o de um desses artistas que tem três projetos diferentes a rodar, tocando com eles semanalmente no referido hotel. Isso não seria problema, se houvesse uma verdadeira rotação de artistas e a oportunidade de todos se apresentarem. Mas não. Ele tem direito a mais que todos os outros, repetindo-se na programação enquanto outros músicos ficam de fora. Este fenómeno, que parece quase exclusivo deste contexto, revela como a falta de equidade e de justiça na distribuição de trabalho está a prejudicar toda uma classe.
Antigamente, quando existiam contratos fixos, era normal porque haviam artistas e grupos com contratos de exclusividade estavam presentes a semana inteira nos hotéis. Hoje, com a rotação, são apenas alguns privilegiados que conseguem garantir um espaço fixo, deixando os outros à margem. O que é que mudou para que este padrão tão desajustado se perpetuasse? Como podemos permitir que uma situação destas continue a acontecer, sem que se tome qualquer medida para garantir uma distribuição mais justa e mais equitativa?
No entanto, devo destacar, como exemplo positivo, a Cristina Barbosa, uma artista madeirense que conheço bem e que tive o prazer de ver atuar recentemente no Porto Mare e Savoy Palace. A Cristina é uma artista completa – canta, interpreta, tem uma ótima presença no palco e sabe comunicar com o público. Ela traz algo novo à cena musical madeirense, seja em covers ou originais, como já começou a fazer, salvo erro. Essa, sim, merece estar na programação, e não em apenas uma apresentação por semana, como acontece atualmente. Na lista de programação, está apenas uma vez por semana, o que é muito pouco para o talento e o valor que ela agrega. Eu fui com um grupo de pessoas e todos gostámos imenso da atuação. Durante a nossa conversa, discutimos muito sobre a falta de qualidade e de oportunidades para artistas como ela, que realmente fazem a diferença.
Enviado por Denúncia Anónima
Sexta-feira, 7 de março de 2025
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