Docência e decência.


A Universidade da Madeira foi fundada em 1988, com a nobre missão de formar professores e colmatar a escassez de docentes na ilha. Um projeto de visão, um investimento no futuro, uma luz ao fundo do túnel para a educação madeirense... ou pelo menos assim foi vendido ao público. O que ninguém imaginava é que, ao fim de tantos anos, a oferta de cursos para formar professores seria algo tão raro quanto um político honesto.

Uma universidade criada para formar docentes e combater a falta de professores na ilha que, décadas depois, não tem um curso para... formar professores. Mas calma! Não se pense que a instituição ficou parada no tempo. Não, não! Em vez de formar docentes, encontrou um nicho de mercado bem mais rentável, a formação de futuros governantes e, quiçá, de futuros suspeitos de corrupção. Inovador, não?

Basta olhar para os quadros do governo regional, tanto do anterior como do atual. Uma coincidência tremenda. Talento nato ou mera obra do destino? Quem diria que uma universidade tão jovem conseguiria especializar-se tão bem em preparar quadros políticos para cargos estratégicos? E não estamos a falar de qualquer tipo de governantes, não! Estamos a falar de pessoas ligadas a casos suspeitos, a investigações, a decisões políticas que deixam no ar aquele cheirinho inconfundível de favorzinhos bem pagos.

Mas se já não bastasse a universidade especializar-se na formação de políticos, eis que surge um detalhe ainda mais hilariante, a coerência (ou falta dela) nas nomeações. O atual secretário da Educação, por exemplo, formou-se em Educação Física na Universidade da Madeira. Faz sentido? Claro que faz! Quem melhor para gerir a educação de toda a região do que alguém que sabe dar uns toques numa bola? E depois temos o brilhante caso de alguém que estudou Letras e foi parar... à Agricultura! Porque, obviamente, conjugar verbos é fundamental para plantar batatas. E como esquecer o exímio jornalista que, por algum fenómeno cósmico, acabou a gerir a economia da região? Ora, a economia é só mais um conjunto de historietas, não é?

E assim, enquanto os professores continuam a escassear, os cursos de governança, gestão e outras áreas tão úteis à manutenção do status quo continuam a prosperar. Porque, sejamos realistas, formar professores não dá tanto retorno como formar governantes bem enquadrados no sistema.

No final de contas, não estamos perante uma universidade comum, mas sim um verdadeiro laboratório político, uma incubadora de carreiras onde os mais espertos sobem, os mais ingénuos ficam a corrigir testes, e os madeirenses? Esses continuam à espera de uma solução para a falta de professores. Mas, pelo menos temos uma academia de futuros líderes políticos! Quem precisa de educação de qualidade quando podemos ter mais uma fornada de políticos bem treinados para uma futura alegada corrupção.

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