A democracia na Madeira é uma coisa tão previsível que podíamos poupar dinheiro nas eleições e simplesmente perguntar ao PSD quando querem renovar o mandato. Afinal, há 50 anos que o resultado é sempre o mesmo. E não, não é porque o partido seja incrivelmente competente ou porque os madeirenses amam estabilidade mais do que uma poncha bem servida. A razão é muito mais simples: política aqui é como ir ao supermercado – toda a gente sai com alguma coisinha na sacola antes de votar.
Agora, sejamos matemáticos por um momento. A Madeira tem 256 mil habitantes, mas nem todos votam. Vamos arredondar para uns 200 mil eleitores. Como em qualquer eleição, nem toda a gente precisa de ser convencida – há sempre os fiéis do PSD (vamos assumir uns 40% que votam neles até se o líder for um boneco de ventríloquo). Então, sobram uns 120 mil eleitores a disputar.
Ora, eleições na Madeira não se ganham com ideias, debates ou programas de governo. Ganha-se à antiga: distribuindo "lembranças". E aqui entra a verdadeira arte da gestão eleitoral. Não é preciso comprar os 120 mil votos indecisos – basta garantir uns 30 mil votos extra e está feito. E como se convencem essas almas hesitantes? Simples, com o velho e infalível "estímulo económico direcionado".
O Kit Eleitoral de Sobrevivência
As prendas variam conforme o grau de influência do eleitor e a sua necessidade de favores:
- Os clássicos do povo – Cheques de 100 a 200 euros em véspera de eleição, umas consultas médicas “adiantadas” ou até mesmo aquele subsídio que estava esquecido na gaveta da burocracia.
- Os amantes do emprego público – De repente, antes das eleições, aparecem concursos públicos para tudo: varredores de ruas, assessores de gabinete, técnicos administrativos. A vaga pode não durar muito, mas dura o suficiente para votar com gratidão.
- Os empreendedores milagrosos – Se tens um negócio ou uma empresa, de repente há contratos camarários e subsídios que caem do céu. Coincidência? Claro que sim.
- Os emergentes em obras públicas – Se a tua firma tiver uma betoneira e um primo influente, parabéns! Vem aí uma obra pública para pavimentar a tua lealdade política.
Agora, vamos fazer umas contas rápidas. Se o PSD precisar de 30 mil votos extra e gastar uma média de 200 euros por cada um (entre subsídios, contratos, empregos e favores), estamos a falar de um investimento eleitoral de 6 milhões de euros. Parece muito? Não para quem controla o orçamento regional, onde há sempre um fundo, uma verba escondida ou um ajuste direto que pode ser direcionado para a "dignificação da democracia".
Mas calma! Nem todos os beneficiados ficam por um cheque de 200 euros ou um contrato de três meses como técnico de fotocópias na função pública. Há uma categoria especial, a elite dos beneficiados, os verdadeiros campeões do sistema. Para esses, os prémios são um bocadinho mais sofisticados. Como um modesto… apartamento no Dubai. Sim, porque enquanto uns recebem um cheque para pagar a conta da luz, há uns sortudos que ganham, alegadamente, um T3 de luxo com vista para o golfo pérsico.
Agora fica a questão: o que será que essas almas iluminadas fizeram para merecer tal prémio? Um voto não deve chegar, talvez nem dez. Será que foram fiéis escudeiros na arte de distribuir favores? Mestres na arte do silêncio conveniente? Ou simplesmente estavam no sítio certo, na hora certa, com as ligações certas? Seja como for, uma coisa é certa: há quem vá votar e depois vá para casa, e há quem vá votar e depois vá apanhar sol numa varanda luxuosa no Dubai.
E pronto, assim se mantêm 50 anos no poder. Não é feitiçaria, é contabilidade. Enquanto houver gente disposta a trocar o futuro por uma prenda de última hora, o PSD não precisa de se preocupar. Afinal, democracia na Madeira é um Black Friday político: cada voto tem um preço – e o governo está sempre pronto a cobrir a oferta.
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