Miguel Albuquerque, a sério?


É mesmo verdade que, numa ilha com cinco ETARs que não funcionam devidamente, a grande prioridade do governo regional é construir mais um campo de golfe? A sério? No meio de uma crise ambiental global, com as alterações climáticas a ameaçar os nossos recursos hídricos, a solução é expandir o tapete verde para os turistas enquanto os esgotos continuam a desaguar diretamente no mar?

É difícil não ficar perplexo. A Madeira tem um problema sério de gestão de águas residuais, e isso não é novidade para ninguém. As estações de tratamento, ao invés de cumprirem a sua função de depurar e proteger o meio ambiente, parecem estar mais interessadas em colecionar problemas do que resolver a poluição que diariamente ameaça as nossas praias e a nossa qualidade de vida.

E qual é a resposta? Modernizar as ETARs? Garantir que os sistemas sejam eficientes e preparados para o crescente fluxo turístico? Não. A prioridade é construir um campo de golfe novinho em folha. Porque, claro, quando falamos de desenvolvimento sustentável, nada melhor do que um espaço gigante de relva intensivamente irrigada para satisfazer as elites que cá vêm passar férias.

Enquanto isso, a Madeira enfrenta um futuro incerto em termos de disponibilidade de água. As previsões não são animadoras e, em vez de nos prepararmos para enfrentar os períodos de seca que se aproximam, estamos a investir em infraestruturas que vão exigir ainda mais recursos hídricos. Não faz sentido. Não faz mesmo.

Será que já pensou que, quando faltar água para abastecer as populações, também faltará para regar o relvado impecável do campo de golfe? Que a lógica de gastar rios de dinheiro em lazer, enquanto as infraestruturas essenciais são ignoradas, só nos coloca numa posição mais vulnerável?

É tempo de parar, refletir e colocar as prioridades no sítio certo. A Madeira não precisa de mais campos de golfe para inglês ver. Precisa de infraestrutura básica que funcione, de garantir um futuro sustentável e de cuidar dos recursos naturais que são o verdadeiro tesouro da ilha.

Miguel Albuquerque, a sério... ainda vais a tempo de perceber que um plano de desenvolvimento digno começa por resolver problemas básicos. Porque no futuro, quando a água faltar, não será o campo de golfe que vai matar a sede da população. E população sem água sabes o que significa não sabes?

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