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Imagem JM Madeira. |
A os 63 anos, Miguel Albuquerque não tem já a energia do político em ascensão, nem o arrojo de quem quer transformar a Madeira. O que parece movê-lo hoje é mais simples e pragmático: sobreviver mais quatro anos, garantir a reforma dourada e sair de cena sem pulseira eletrónica.
Depois de décadas sob a sombra de Alberto João Jardim, Albuquerque assumiu o Governo Regional da Madeira em 2015, prometendo renovação, transparência e moderação. A promessa durou pouco, ou talvez nunca tenha sido mais do que uma mudança de linguagem. Porque os métodos continuaram: ajustes diretos, favorecimentos a grupos económicos, contratos públicos sistematicamente atribuídos às mesmas empresas, tudo com o mesmo perfume da velha política insular.
As suspeitas de corrupção: uma rede bem oleada
Em janeiro de 2024, o Ministério Público e a Polícia Judiciária deflagraram uma megaoperação que abalou os alicerces do poder na Madeira. Em causa, fortes indícios de corrupção ativa e passiva, prevaricação, participação económica em negócio e abuso de poder, com o envolvimento direto de altos responsáveis políticos, entre eles, Pedro Calado (então presidente da Câmara do Funchal) e figuras próximas de Albuquerque.
Embora Miguel Albuquerque tenha escapado por pouco a uma acusação formal até agora, o seu nome surge repetidamente nas investigações, com escutas e documentos que apontam para um envolvimento direto ou, no mínimo, um conhecimento cúmplice dos esquemas em causa. As empresas beneficiadas, sempre as mesmas, garantiam obras públicas, financiamentos, contratos e contrapartidas, enquanto o Governo Regional mantinha o ar de normalidade institucional.
A máquina de poder construída ao longo de anos, entre autarquias, secretarias regionais, empresas públicas e entidades "independentes", funcionava como uma teia de favores cruzados, onde quem estava dentro ganhava tudo, e quem estava fora nem se atrevia a concorrer.
A estratégia da sobrevivência
Perante a gravidade das suspeitas, qualquer político com visão ou decência se demitiria. Mas Miguel Albuquerque optou por encenar a estabilidade, usando a sua base no PSD-Madeira e uma estrutura de dependências políticas para se manter. Para quê?
faltam-lhe cerca de quatro anos para atingir a reforma, uma reforma generosa, à qual poucos madeirenses podem aspirar. Até lá, só tem de "aguentar o barco", manter a aparência, evitar escândalos maiores, e deixar o tempo passar. A Madeira? Essa que espere. Ou afunde, se for preciso.
A Madeira como refém político
A grande tragédia é que a Madeira, uma região com enormes desafios estruturais, desde a pobreza encapotada até à dependência económica de interesses instalados, está há anos refém de um projeto pessoal de sobrevivência política.
Não há reformas profundas. Não há combate real à corrupção. Não há investimento sério na transparência institucional. Há apenas um poder que se protege a si próprio, enquanto a população é anestesiada com inaugurações, festivais e promessas recicladas.
Miguel Albuquerque não governa para os madeirenses. Governa para manter a imunidade, terminar o mandato e garantir que, quando chegar a hora, sai sem algemas.
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