N um arquipélago onde durante décadas mandaram sempre os mesmos, onde se calavam vozes e se dobravam espinhas, eis que surge um grupo de trabalhadores que mostra, sem medo, que a Madeira está finalmente a acordar. Os motoristas dos Horários do Funchal preparam-se para entrar na terceira greve, e que dia escolheram! Justamente o dia do comício do PSD no Chão da Lagoa. O dia em que os senhores do poder esperavam contar com os autocarros para encher o recinto como manda a tradição. Mas este ano, surpresa: há trabalhadores com dignidade e com coragem a dizer "basta".
Isto sim, são tomates. Isto sim, é ter coluna vertebral. Num tempo em que muitos ainda têm medo de levantar a cabeça, estes motoristas disseram que os seus direitos não valem menos só porque estão ao volante de um autocarro em vez de sentados num gabinete de luxo. Lutam por melhores salários, por horários justos, por respeito. E fazem-no sem se curvarem ao poder político ou às chantagens habituais.
Este gesto é histórico. Não só pela greve em si, mas pelo simbolismo. O PSD, que durante décadas usou os autocarros para mobilizar multidões, está agora encostado à parede pelos próprios condutores. Aqueles a quem sempre se exigiu tudo, mas a quem sempre se deu pouco. Aqueles que levam a Madeira inteira às costas, desde o turista que vai para o hotel até ao idoso que vai ao centro de saúde, estão agora a dar-nos uma lição de cidadania.
A Madeira está a mudar. E a mudança começa exatamente aqui: com gente simples, trabalhadora, que não se deixa calar. A vossa greve é mais do que uma luta laboral. É um murro na mesa. É uma afirmação: “Nós também contamos. E sem nós, vocês não vão a lado nenhum.”
A todos os motoristas dos Horários do Funchal: o nosso mais profundo respeito. Continuem. A vossa coragem é o que nos inspira a acreditar que sim, é possível mudar esta terra. E que a dignidade, por fim, chegou ao volante.
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